segunda-feira, dezembro 31, 2007

Xeque-Mate

Olhei para esta manhã como um tabuleiro de xadrez, simples: os espaços claros eram a manhã luminosa e madrugadora com a qual acordei hoje, os espaços negros, eram os restícios de uma noite de sobressalto, de muito sono e pouca cama.
Esta manhã foi uma mistura de tudo isso, de cansaço, de angústia, de uma figura altiva que se foi desvanecendo pouco a pouco, sem mais aparecer.
A noite ontem faz-me repetir hoje o que já fiz saber tantas vezes.
É importante não deixar que os outros deixem de pensar que são importantes para nós.
Tudo em nós existe de uma só forma.
Não temos que nos mascarar conforme a festa a que vamos, ou com quem vamos a essa mesma festa. Somos o que somos, não temos que ser mais, nem menos do que nós.
Se não servimos os ensejos de alguém, se apenas somos pouco ou muito para quem nos olhou um dia, nada podemos fazer, não temos que o fazer.
Na realidade a vida não é um jogo em que driblamos a vida de quem conosco, pensamos nós, começámos a jogar um dia.
Perdemos sempre.
Neste último dia do ano: Xeque-Mate.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Quando...

Falámos demais... ousámos permitir que as palavras se transformassem numa balança desequilibrada de um sentimento cheio de tudo para dar.
Falámos de momentos, de sentidos e sentimentos, mas nunca saímos de nós.
Guardámos demais... tanto, que nos chegámos a despir com aquelas mesmas frases que nos fizeram um dia dizer adeus.
Nunca pedi nada, nunca me pediste nada, só por isso fomos e somos felizes.
Estás longe, e eu estou longe, continuamos a acreditar que existimos como um ser só... cada um de nós á sua maneira... somente isso.
Quando falámos de nós, acabámos sempre por falar de mais alguém, nunca estivémos verdadeiramente sós...
É o timbre desafinado da história de uma vida pautada pelo quando.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Hoje, amanhã, depois de amanhã...(fim)

Porque te falei, porque me ouviste, porque te quis, porque não te tive, porque te desejei e não te senti.
Fugi para bem longe, comprei apenas o bilhete de ida, não tenho regresso anunciado, acho mesmo que fico por lá, não sei bem onde, mas longe.
Disseram-me que era uma viagem... vou espreitar.
Um dia, quem sabe, regresso para contar como foi.
Conto não voltar.
O hoje, o amanhã, o depois de amanhã... serão sempre escravos do verbo querer, isso não mudará nunca.
Parto hoje... sem hora marcada...
Adeus.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Chá e café...

É o teu chá, é o meu café, é a minha voz, é o teu olhar, é a minha história, é o teu livro, é tudo e não é nada.
Voámos, pousámos, fugimos, ficámos, olhámos, sentimos, vivemos, perdemos. Os nossos desencontros não têm sujeito, nem predicado, apenas existem, e isso é a nossa certeza, com a cor própria de uma frase sem tom, mas com o doce sabor de um alfabeto de cores, com as quais pinto as palavras que te escrevo:
'Sou teu...'

...Ontem deixei-te parte de mim...

O recado que te deixei em cima de uma outra mesa, de um outro café, mas sempre com o mesmo olhar, tornou-te única, como no teu primeiro medo, naquela primeira noite, que insiste em não se apagar em momento algum e que me ensurdece nos minutos de silêncio que parecem não ter fim.
Falámos de outras pessoas, e de tanto falar dos outros, deixámos de falar de nós. E tantas vezes sorriste, meu deus e como tu sorris, só tu sabes sorrir assim, olhar assim, sentir assim, ouvir-me assim... foi bom recordar-te, bom de mais talvez...
Não me deixaste dizer-te adeus, falar-te da viagem que quero fazer contigo, não podia falar, não tinha que falar. Ontem apenas magoou, hoje dói. Escrevi-te tantas vezes e rasguei parte de mim outras tantas. É com tristeza que hoje parto, sem regresso, sem história. Irás lembrar-te de mim como um passado que injustamente passou, que não deixou que déssemos a mão, uma única vez sequer.
Existes, tens um nome e acordas-me todos os dias com um sorriso.

terça-feira, novembro 20, 2007

jogo do tudo ou nada (ritmo)

No jogo do tudo ou nada jogamos sempre tudo e ficamos tantas vezes sem nada. Habituamo-nos que nada existe sem que tentemos apostar no tudo, mesmo sabendo que só asssim podemos deixar de ser o nada que tantas vezes nos atormenta, nos constrói e nos destrói quando almejamos em ter tudo e afinal de contas não temos nada.
É um jogo que deixa de o ser, quando das palavras fazemos história e da vida uma aventura, igual a tantas outras histórias. Fácil é não olhar mais para trás quando temos uma vida cheia de dias nunca iguais aos que por nós passam, esses nada fáceis de levar.
Dificil será pensar que tudo isto existirá sem a culpa de quem um dia decidiu nunca existir.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Sistema...

Tenho pensado na morte. Não na minha, nem na dos outros. Na morte, ponto final. Não que a tema, pois não me faz confusão alguma. Talvez apenas porque existe e existirá sempre seja qual for a nossa crença, a nossa fé. Se calhar porque ao contrário de tudo o resto faz-nos pensar sem sequer olharmos para a sua irreversibilidade. Não sei, mais um exemplo em que talvez pensemos pouco em tudo aquilo que nos é dado por garantido na nossa vida. Sendo isso uma verdade então, perdemos demasiado tempo em cumprir com as expectativas das coisas tão fúteis quanto aquelas que nos ocupam o tempo de tão inócuas serem.
Pelos outros, porque o problema são sempre os outros - dizemos nós.
Temos medo da nossa verdade... Ontem foi mais um dia de terror.

terça-feira, outubro 23, 2007

Viagem...

Perturba-te mais o silêncio dos outros, do que a tua falta de respostas perante os que se calam diante de ti.
Caminhas sem destino junto a uma qualquer praia, julgas saber o rumo que tomas mas não questionas sequer o que te levou a ausentar-te de um calor ameno para um vento frio que te gela em cada passo que insistes em dar.
Transformaste o teu corpo numa arma de arremesso contra quem te fez mal, vendeste uma parte de ti a uma evidência tão pouco evidente que é ter alguém, e não te reconheceste em momento algum dentro da tua própria existência. Podem ter passado meses, talvez anos, sem que tenhas decifrado hoje cada uma das razões que te levou a fugir de uma vontade sentida que aprendeste a dominar com a distância do silêncio.
Fartaste-te de ouvir falar sobre o que era o senso comum das mesmas pessoas que te julgavam, e resolveste tu mesma construir o teu próprio senso, longe de ser comum a uma vida pautada de tão poucos excessos. No entanto guardaste-o em ti, não o mostras a ninguém.
Mãos nos bolsos, tentas aquecer um pouco as ideias que te levam a viajar para bem longe.
Sabes que ali tu podes ser tudo, não há limites, nunca houve, talvez seja isso que te leve a sobreviver sem viveres o que te achas no direito de viver.
Vives hoje apenas de momentos, sabes que os gestos do passado já te pertenceram, que já não te pertencem mais, nem saberás hoje a quem pertencem, ou se te podem pertencer ainda. Tens medo de ouvir, de ler, de sentir tudo aquilo que te fez feliz, nem que por breves instantes, mas sabes que sim, que é algo só teu, por instantes tens direito a ser egoísta no teu próprio mundo, isso ninguém te roubará nunca.
Chove, aceleras o passo, está na hora de regressar.
Deixas o mar e já só pensas que te espera um banho quente, um êxtase sem face, mas um momento teu.

segunda-feira, outubro 22, 2007

pelo menos uma vez...

Já é tarde...
Deitas-te finalmente na madrugada da vontade alheia, numa cama que é a tua...
Esperas pelo dia seguinte, sem resistires sequer ao escuro que te envolve, ao silêncio que te liberta, pois tudo em ti adormece lentamente...
Por ora preferes o silêncio a um sono tranquilo, pensas e despes cada momento do teu dia num ápice, sabes que trazes presente o perfume que te embriagou um dia, não sabes bem quando, apenas sabes que assim foi, não há engano possível, estás certa que não.
Os teus cabelos desalinhados contradizem a tua vida tão terrena.
Sabes de cor o nome das ruas pelas quais passaste de mão dada a uma felicidade que te extasiou, te despiu sem regras, te tornou hoje tão frágil. Deixas escapar um sorriso, porque sabes que ninguém vê quando te lembras daquele beijo, daquele abraço, daquele amasso...
Tudo em ti acorda, e vives durante breves segundos a mesma alegria que um dia te fez sentir tão viva, pena é não durar uma eternidade como tantas vezes prometeste a ti mesma que duraria. Resolves parar e pensar no que és hoje, em tudo aquilo que viveste há tanto tempo, na tua rotina, e não te reconheces em momento algum, pois sabes que existe algo mais, aquela dúvida, alguém que um dia te deixou sem palavras, que tantas vezes te olhou e te leu.
Olhas para os mesmos escritos, esses bem guardados, que outrora fizeram de ti rainha e aí sim, tens vontade de mudar tudo em ti, de voltar a escrever, de continuar a sentir, mas agora com mais força com o mesmo sentimento que te moveu durante todo o tempo que passou...
Acabas por adormecer no desejo de o fazer.
Acordas de manhã sem música, para um dia que apesar de quente, nunca será tão acolhedor como no dia em que te perdeste nos braços de quem vive em ti na forma mais pura de se viver... Talvez um dia pensas tu.
Já todos o vivemos...pelo menos uma vez...

Mordaz

Abriram-se portas que outras janelas fecharam numa corrente de ar forçado, este, a dobrar as mesmas páginas que nos fizeram rir um dia, e chorar pouco, porque até então eramos felizes, como mais ninguém sabia ser.
Sem história, marcados pelo tempo, hoje ouvimos mais do que sabemos ler entre as linhas do passado, talvez irados pela preguiça que é viver longe de tudo o que nos faz pensar.
Somos maduros o suficiente para cair vezes sem conta de um ramo viçoso da vida de alguém, mas somos tão imaturos quanto a nossa juventude nos permite ser, sonhar, viver...
Nada mais nos resta do que procurar e nunca encontrar.
Somos frios porque o tempo assim o exige, desculpamos tantos erros que um dia passamos nós a ser um equívoco, sem que perante isso nos desculpem de sermos como somos: errantes.
As frases repetem-se e os gestos esmorecem já sem significado, acabam as letras por morrer no lume brando de uma saudade sem história.
Nada de novo num mundo igual.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Cem...

São cem as histórias contadas, uma dúzia de mágoas, e outra meia, de uma solidão, essa sim, sem história alguma. Vivências que me ajudaram a estar mais perto, sem realmente estar, viagens sem um fim à vista em que apenas se começou algo, no entanto tão pouco, mas nunca desejando um regresso, talvez porque nunca interessou conquistar, sem que se pudesse viver um pouco de tudo aquilo que se ganha de alguém.
Não sei, talvez te tenha encontrado nas palavras que tantas vezes dilaceraram a alma de quem as leu na busca de uma resposta que acabou por nunca conseguir encontrar, e que não ousou alguma vez pensar que sim, perdida quem sabe, numa qualquer frase despida de advérbios de modo, mas adjectivada por fortes anseios.
Foram cem os momentos de investidas épicas, vividas por quem por nós passa, e por quem de alguma forma vai ficando, e cada vez mais fica. Escrevo-te a tinta permanente na história da minha vida, mesmo que não te queira conhecer, e se te conheço, não te conhecerei assim tão bem, para que possa dizer que sim, mas lês-me, só tu saberás se com prazer o fazes...
Histórias sem sentido de facto, mas com a certeza que ‘de tudo o que é mais transparente escolho as formas e os gestos da tua sombra, que não se apagam, apenas me atraem e me despem no mesmo momento que me olhas e serenas ...’.

A ti, em especial, bem haja por mais um ano de blog.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Vita

Tenho para mim que a vida não são apenas os dias que nos constroem, mas que são pautados pelas interrogações que nos fazem pensar em tudo, tudo o que nos define e não nos surpreende. Questionamos de mais. Claro que sim. Sempre que podemos.
Tanto que às vezes a nossa vida deixa de o ser, para passar a escrever-se de trás para a frente, vivida por momentos disléxicos e incompreensíveis, tamanha é a vontade de nos tornarmos seres esclarecidos e pouco voláteis a um qualquer desejo alheio.
Uma rotina, um diário que deixamos de escrever, em que se deixam de contar os dias para se embarcar num espaço, sem rumo, de emoções destruídas e graves questões que não nos atrevemos a colocar a mais ninguém, se não a nós mesmos.
Vivemos assim, sem respostas, mas com uma vontade sentida de encontrar soluções para mundos sonhados e outros tantos destruídos, com um doce toque de quem nunca se atreveu a partir, não hoje, nem nunca.
Apenas só mais uma dúvida, uma só questão, que nasce em nós e não morrerá tão cedo, certos que estamos de uma fraqueza timbrada nas cartas da nossa vida.

terça-feira, outubro 02, 2007

Complexo...

Conseguimos sempre o impossível, que é baralhar as palavras de uma vida apaziguada pela calma da noite que por nós passa e nos desfalece pouco a pouco nos braços. Nunca dizemos chega, apenas porque a sede nos procura assim como nós procuramos um dia ser felizes, enfim, pensando só em nós, e na nossa própria vontade, na nossa própria ira.
Somos heróis nos livros de quem faz de nós exemplo, sem mágoa, mas com a dor típica de quem sente. Voar por voar leva-nos a sentir que mais vale o pousio de dias quentes e noites primaveris, esses mesmos, em que nos sentimos preenchidos pela brisa que passa, do que aguardarmos por paraisos tempestuosos que apenas nos arrancam da epiderme da alma uma saudade descrita em lágrimas galopantes, essas sim, dolorosamente sentidas. Voltados ao silêncio do sono tudo parece ter mais sentido, apesar das cores nos despertarem para a vida, continuamos a preferir a paz de um repouso vazio de tons, mas preenchido de secretos aromas e sabores improváveis, tão nossos...

terça-feira, setembro 11, 2007

'quês e porquês'

A nossa memória transcende toda e qualquer realidade física de uma saudade apenas corrompida pela voz de quem nos atenta, quem nos ouve, quem nos quer. É-nos impossível ultrapassar toda e qualquer mágoa que nos possa ter destruído (pensamos nós para sempre) ou que nos fez chorar um dia aquelas lágrimas tão pouco efémeras para momentos de um desespero clássico de um romance vivido numa analepse inventada por nós, mas sem história, não agora, não hoje.
Nem a saudade que nos surpreende nos momentos mais insuspeitos nos vem fazer frente a uma vida cheio de 'quês' e 'porquês', cheios de tudo, de um pouco de quase nada, e um imenso vazio que se perdeu na imensidão de um oceano do qual jurámos um dia ser nosso.
Tantas vezes viajamos sós, de mão dada ao que nós queremos que seja um dia bem passado, uma noite bem vivida ou uma vida inteira de emoções transformadas num amor que nos preenche os minutos preenchidos de tédio de uma vida levada de sobressaltos sem rosto, apenas descrito por gestos e sentido por quem o vive, sem medos, com tudo aquilo a que nós, e só nós, julgamos ter direito...
Ao menos continuamos donos dos nossos próprios sonhos, dos nossos próprios receios, esses que deviamos partilhar com o senso comum ninguém os leva, pois ninguém os quer.
São os nossos 'quês e porquês'...

terça-feira, agosto 21, 2007

Dez minutos...

Por ora sem preenchimento obrigatório de possíveis razões a leste de um paraíso por nós inventado, por nós desprezado quanto nos é possível pensar que o possamos fazer sem mágoa.
Por nos lembrarmos que existimos para além do que nos permitem falar, guardamo-nos de razões nossas de um mundo que nos agride pela constante recusa do que se julga ser tão real, como a sede que nos desassossega a alma, de palavras escritas num mundo perdido.
A nudez que tanto nos deprimiu um dia, é agora a interrogação de uma entrega, que em forma de exclamação nos permite ser mais e melhor do que outrora ousamos poder pensar ser.
Foram dez minutos de uma fuga sem tempo, de azares corrompidos por um sliêncio de calma de gestos tão bonitos quanto singelos eram os minutos em forma de uma pressa que só nós compreendíamos e carregávamos aos nossos ombros, e não nos custava, senão ouvir.
É o abraço, é o afagar de um toque em lábios já secos pelo vento frio que nos corta as palavras e nos faz sentir mais próximos de nós mesmos, sem estar.
É um calor doce de um tempo quente, sem réstia de um princípio e sem pressa do seu próprio fim.

terça-feira, julho 24, 2007

Erudito..

'(...) Respirais desta escrita pagã que vos afoga o olhar na mais profunda lembrança que é estar viva.
De que noites vos lembrastes, sim vós, princesa desfeita por ferros atrozes que vos prendem nesse mundo maldito e vos mata num desassossego constante, pela vida que ousastes um dia poder pensar sonhar.
Que pecado é esse que vos torna parte de um gélido ardor que não deixa de fervilhar nos dedos de quem por vós escreve, sem que por isso vos deixe de tentear com olhos de uma censura galopante nos dias que vos maçam e vos transcendem.
Sinais de uma intempérie que se aproxima, mas nem por isso desdita, de um maior fim que um amor que paira tão perto e com um fulgor definitivamente vosso.
No vosso peito mora a mais bela história de amor, com todas as letras que vos tornam transparente como a água, que um dia brotou da fonte que vos apaixonou.
Trago amargo que não ireis esquecer nunca, da vontade vos privaram, esses vossos lábios, que um dia doces pareceram, numa noite de histórias contadas, essas sim sem história alguma (...) .'

terça-feira, julho 17, 2007

Deixa-te estar mais um pouco...

O amanhecer já forçado das horas que insistem em não te despertar e que voam pairando sobre os verbos de um livro que deixaste aberto, talvez caído, não sei... tal era a vontade que tinhas em partir... Jaz o capítulo de um tempo passado naquela mesma sala deserta de luz e cheia de um vazio de saudades de ti.
Olhas para aquelas cadeiras, que nunca te procuraram a atenção em momento algum e fazem-te lembrar que era ali que passavas os teus serões, em conversas amenizadas pelos copos cristalizados de um tempo duro, mas nunca vazios de conversas pouco lúcidas, tão pouco sóbrias. Reparas nos quadros, sem te perder nas pinturas, fixas o teu olhar crítico na distância que percorres milimetricamente na moldura que envolve as cores que um dia tiveram vida, mas que hoje não têm tom.
Contemplas as paredes já gastas pelo tempo e que tantas vezes serviram de fuga para o teu olhar, quando sobre ti se redobravam os outros olhares, com os quais não querias falar.
Tudo te faz recordar, o linho já desfeito de umas cortinas que tantas vezes te pareceram feitas de ferro nos momentos em que as lágrimas tomavam conta de ti, e tu apenas querias olhar mais além, mas só ali, só por aquela janela...
Mas hoje existia o espaço, o teu verdadeiro espaço, embora recordasses um passado sombrio e feito de um negro manto de razões que te fizeram partir....
Viveste tudo isto quando te lembraste de alguém...

segunda-feira, julho 16, 2007

Senta-te aqui...

Senta-te aqui junto a mim, encosta o teu ouvido à minha voz e deixa-te estar mais um pouco, talvez até amanhecer, não sei...
Adormecerás nos entretantos e em outros tantos momentos cederás à fraqueza de uma noite que vai chegando calma e serena, apenas degustada pelo negro calor de uma brisa tão quente como sufocante é o momento que nos assiste.
Talvez a sede nos tenha aproximado de um céu escuro, numa noite que não se quer de grandes conversas e onde apenas se procuram momentos de uma paz que tarda em vir e nos olha na distância de um mar sensato.
Acabamos por partir, se calhar falando pouco e olhando para um horizonte descoberto de certezas, onde o silêncio que nos percorre a pele nos arrepia num ápice de um pensamento que nos levou para bem longe dali.
Deixamo-nos estar, mesmo sem grandes conversas, apenas olhando para lá de tudo mais e dando espaço a vontade de apenas estar.
A indolência do tempo deixa-nos fraquejar perante uma noite que já madrugou, encontramo-nos num outro mundo, adormecida que estás, no ombro que um dia tu buscaste...

quinta-feira, julho 12, 2007

Vou-te contar uma história...

Aquele lugar, naquela cama, no outro quarto, no mesmo quadro, na mesma história, continuaria a suspirar por se encontrar vazio de razões, que o levasse a ocupá-lo de sentidos, esse mesmo espaço, no fundo já de medo, de ali, já prostrado, se encontrar quem nunca mais se quis ver.
Uma tela pintada pela vida, mas rubricada por quem passava por ela, e a olhava com o desprezo de em mais uma fábula se rever, na hipotética vontade de se misturar nas mesmas cores, que julgou expulsarem-no um dia, com a verdade do seu juizo sápido.
Nada de vil, se não mais umas palavras robotizadas pela sede de uma esperança que se vai desvanecendo nas nuvens que se precipitam num abismo constante, de pensamentos infames, mas nem por isso verdadeiros. Os dias acabariam por ser somas congestionadas pelas suas próprias angústias, por dialectos imperceptíveis de quem espera nunca mais voltar ao ponto em que tudo começou um dia.
A revolta inicia, onde termina a sensiblidade de um raciocínio que perante uma submissão atroz, se envolve na obscuridade dos mesmos passos, que um dia o fizeram ser tão diferente do resto de um mundo que o atacava num plágio constante das suas ideias e dos seus sentimentos.
Nada disto se tornaria claro em momento algum, percebendo que não haveria quem lhe escrevesse a mesma história, a sua, talvez aquela que um dia sonhou pintar numa qualquer tela a quatro mãos e sem regras.
Acaba por desaparecer numa noite em que a lua foi cúmplice de um adeus sem demora e sem retorno, há quem diga que foi para longe, outros tantos afirmam que ficou mais perto...

segunda-feira, julho 09, 2007

É...

É um salto...
É um ponto final, é uma viagem que se inicia, é uma viragem de página, é um momento que se vive, é algo que de nós parte, é tudo o resto que fica, e tudo mais que se inventa.
É um até já, sem sequer ter sido um adeus, é uma lágrima que corre para mais tarde se sorrir, é um aperto de mão quando o que queríamos era um abraço, é uma história que se escreve, é uma vivência que se ganha, é uma criação dos nossos olhos, é um deslumbramento de um sentido, é uma corrida contra o tempo, é um sonho que se vive...
É tudo mais que nos assola, quando apenas existe o resto...
É assim...

quarta-feira, julho 04, 2007

ocaso taciturno

Temo pelo que escrevo, pelas formas distorcidas que tornam as palavras que vou cravando no vazio, num óbice simplista, de uma interpretação fácil e desajustada do meu próprio mundo.
Não me leio nas frases que escrevo, nem no que represento nas mesmas.
A vida é assim mesmo, perde-se tudo, para mais tarde se perder tudo mais que ainda havia por perder. Não que isso me obrigue a uma reflexão profunda, mas obriga-me a uma sinceridade própria de quem não quer ser lido. Não agora.
Agora apenas vivo cansado das minhas próprias certezas e das suas reais consequências.

terça-feira, julho 03, 2007

A tua música...

Não sabemos quantos passos damos, quando tudo o queremos é estar parados, ouvir o som de quem caminha ao nosso lado e nos dá a mão, talvez quando nada mais queremos ouvir, se não aquele arrepio que nos transporta para uma eterna penumbra que tarda em desvanecer-se aos nossos olhos.
Foste uma rosa.
Foste uma pauta de músicas diferentes, mas tão audíveis, como a doçura do teu olhar.
Foste uma tela, com poucas cores é certo, mas inventaste mais umas quantas que pintaram os dias de quem te olhou de um tom só, mas tão teu.
Retratos de um momento vivido por mim, mas certamente velado por ti em silêncio.

Perceber-te...

Esta sede que não acaba nunca, as palavras que não se esgotam, e as vivências que nos arrastam para memórias que ardem no calor de um tempo que nos consome.
Uma porta trancada, talvez uma fechadura desarranjada, não sei... talvez algo que nos afasta e insiste em não nos deixar sós.
Compreendo-te, mais que tudo, sinto-te e penso-te como fruto de uma imaginação que não se deixou alhear de um presente e que te torna tão viva quanto real.
Talvez sem perceber o que me desperta e alimenta, numa alma desfigurada pela força de um silêncio corrompido por palavras sem autor... mas com história - a tua história.
Deixa-me pintar as tuas palavras, escolhes tu a cor...

segunda-feira, julho 02, 2007

Vox

Voas, sim, só tu sabes voar...sem que te dês conta que o fazes da forma mais sublime, mas também a mais sentida de todas... Dançavas por entre a claridade de uma voz que sussurrando apenas te desenhava na sombra de um perfeito punhado de flores estarrecidas com as formas de um olhar que não sendo meu, era único, era mágico, e esse sim, ficou...
Sem música, mas com um imenso mar de emoções assisti ao pleno de um por do sol de razões, que partilhámos sempre com mais alguém, mas que nunca conseguimos viver sós.
Sabemos recordar talvez melhor que ninguém, mas facilmente nos arrastamos numa ténue corrente de uma tristeza que nos invade... Mesmo assim vamos vivendo da melhor forma que sabemos, sorrindo pouco é certo, mas talvez com a esperança de mais tarde poder sorrir sempre...
Facilmente nos perdemos, eu do teu olhar e tu da tua sombra...

Interlúdio...

... uma rosa deitada no peito de um mar imenso, de formas tão pouco geométricas, quanto humana era a sede da calma maresia. Guardam-se os mesmos movimentos que nos apaixonaram um dia pelo mar, pela brisa, pelo som das ondas de uma revolta sem nome, mas com medo.
Olhámos e apenas olhámos, nada mais.
A mesma rosa que tinha tombado um dia no areal dos sentidos, foi a mesma que adormeceu no teu peito, até ao dia em que a onda da tua paixão a resgatou de um deserto imenso e a levou para junto de ti ...

Ler...

Revisitei em sonhos a mesma praia que um dia me fez sonhar contigo.
Passa-se o tempo escrevendo, e pouco se vive vivendo, quando apenas existiu o pó de uma serena saudade que não nos deixa viver mais do que aquilo que procuramos saber viver, mesmo assim, pouco.
Pensando que faço das palavras, as minhas, e que escrevo neste meu desassossego, talvez o que que um dia me fez tornar tão só quanto as horas que ainda passam, as mesmas que ainda hesitam ser lidas, mas não hoje.
Moro bem longe, no desejo de não mais voltar senão agora, senão no momento de não saber para onde irei.
Sei que não te vou ler mais, apenas o sei, porque o sinto.
O teu silêncio pautou-se de memórias desalinhadas de um sentido só.
Sei agora que exististe sem que te sentisse um momento sequer.

sexta-feira, junho 29, 2007

Não mais...

A noite foi de lua cheia, penso eu, não sei, não estou certo do que seria.
De todos os gestos pouco iluminados, ficaram os teus, aqueles breves que senti bem longe de onde te vi. Nada mais sorriu, apenas esse momento, aquele que não passou, o mesmo que ainda hoje cintila no meu pensar quando me lembro do que foi sentir-te, talvez uma só vez, não sei...
Partes certamente para longe, com o teu norte, o mesmo que nos fez perder num imenso vazio.
É uma viagem que inicia e só tu mereces ser feliz nessa tua viagem.
Fica a esperança de um dia te poder dizer que as respostas que procuras sempre viveram em ti.
Não mais...

quinta-feira, junho 28, 2007

Boa Noite...

Gostava de te poder dizer boa noite, só a ti, a mais ninguém senão a ti. Não sei se existes, muito menos se ainda existes. Na verdade espero ainda ver-te um dia, nem que seja por breves instantes, mas ver-te, a mais ninguém, senão a ti.
Talvez fugir, deixar de pensar que as barreiras que nos transcendem são as mesmas que nos afagam ainda hoje, mesmo que esse passado tenha sido vivido a correr e que todas as questões permaneçam ainda por responder.
A música até poderá ser diferente, no entanto as notas são tão semelhantes, como a sinfonia que transformou os seres mais odiosos em pequenos pontos num areal imenso de verbos, palavras, razões...
Fica apenas o adeus e nada mais se disse senão o amargo adeus. Alguém ficou com o melhor, com o olhar doce, a voz embargada pela dúvida, a distracção em forma de silêncio, tudo isso que nos agarrou a um presente, e que ficou com mais alguém, talvez contigo, não sei...
Não sei se existes, e se ainda existes.
Boa noite...

Mais...

Questionamos a importância das coisas, simplesmente porque alguém nos diz que é importante, ou nós achamos que não há nada mais importante do que aquilo que alguém já nos convenceu ser de tudo, o mais importante.
Talvez fruto do excesso de tempo para pensar, para sentir.
É o mesmo que respirar o ar de outra pessoa sem que isso nos torne distante de tudo mais, afinal de contas, queremos é estar perto do que nos faz viver a dor, nos consome, momentos insanes, que nos transformam num alimento para a nossa própria alma.
Fundamental é ter dúvidas e saber respeitá-las, isso sim faz de nós seres diferentes e em constante mudança.
Entregamo-nos á futilidade de um tempo que passou e não volta mais.
Mesmo que tenhamos medo das nossas próprias questões, mas fugimos sempre.
Finalmente o inicio de um novo dia...

quarta-feira, junho 27, 2007

Errante..

É um frio que nos cansa, que nos gela qualquer vontade de escrever, nos entristece o toque e nos deixa sem forças sequer para escrever uma vírgula numa página sofrida de quem tomba palavras sem se olhar, sem se conhecer, sem se acreditar.
Não se consegue estar em baixo, porque lá em baixo tudo nos parece bem melhor do que pensamos realmente merecer. Pairamos sobre algo que nos deixa apagados, mas ao mesmo tempo, algo que nos acende a alma na ausência de cor, de formas, de tudo mais. Uma qualquer outra força que nós dizemos não existir, mas que nos cerca a cada minuto, existe, é algo que nos move e não nos demove de nada, a não ser de um cansaço que teima em não nos deixar sós, talvez sós, porque um dia assim quisémos ficar.
Não existo a não ser em papel, nas frases que já não escrevo, que já não pontuo... Não existirei nunca mais como ser pensante, mas como eterno errante de um passado tão terno, mas não meu...

Oculus animi index

O olhar perde-se na maior das batalhas da vida quando inundado por motivos fúteis e sem sentido de lágrimas voláteis e de imagens corrompidas pelo calor de um momento.
Sentimos o que sempre julgámos ter, da mesma forma que o vento desaparece do moinho da nossa vida e aí paramos perante os outros e agarramo-nos á tristeza de um passado não tão passado assim, mas que magoa.
Não nos interessa fugir, esconder, ou até mesmo sobressaltar quem nos quer, quando apenas a nossa alma se julga escondida de tudo mais e por isso inerte.
As palavras deixam de espelhar a nossa alma, para mentir o que os nossos olhos não escondem. E vivemos assim, convencidos que tudo mais é passageiro, menos a nossa dor, essa pode durar para sempre porque já nos convencemos de como é verdadeira.
Nunca nos enganámos tanto a nós mesmos, como hoje, aqui e agora...

Um passo em direcção ao nada...

Ontem sonhei o maior dos pesadelos, acordei sem sentidos, sem a lógica de um dia que parecia não ter acordado de uma noite passada, mas sonhei. Despertei para o que não queria olhar, não mais que o escuro, esse que nunca me habituaria a perceber, senão hoje, senão depois de me ter acordado.
Nada me fazia crer que ali estivesse, eu nada via, nada sentia senão a respiração ofegante de quem mesmo parado tinha corrido quilómetros talvez fugindo para um lugar esquecido, esse sim, com a certeza que não existirá mais.
Acordei cansado de me ler, de me ouvir, de falar, de sonhar por quem não o sabe fazer, não o quer fazer, apenas o diz fazer.
Tenho as memórias de uma vida a magoarem-me em cada passo que dou.Talvez almejados por quem nunca quis regressar de um mundo para onde partiu e que não sabe mais voltar.
Como se nada mais interessasse e estivessemos apenas nós, e só nós, nós e o mesmo mundo que resolveu prender-nos um dia.

terça-feira, junho 26, 2007

Realidades

As palavras que transfiguram a realidade, são as mesmas que nos destroem, quando apenas se quer construir do medo, a maior das falésias em direcção a um vasto mar, esse sim, o único que nos parece entender.
De nada nos vale fugir, quando tudo o resto nos persegue, nos magoa, nos retrai.
Como ousamos pensar em ser livres se apenas guardamos rancor do que nos faz sofrer?
As imagens de uma vida guardam-se mediante a importância que o tempo lhes dá, tudo o resto são apenas réstias de uma saudade que nós não queremos apagar, tornamo-la a maior defesa do medo contra todas as mudanças.

Prisão

Pensei em ser diferente, em não olhar mais para o céu azul e pensar que ali sim, seria a finitude de um momento que nada mais tinha para dar e que não deu. Deixar de pensar que tu, ao deixares de o ser, não voltarias nunca a olhar para trás sem mágoa de dor, e que sobrevivias apenas olhando para o que restava ser, num momento só, a pura ilusão sem sentido, de um regresso a um passado taciturno e só por isso composto de uma transcrição de memórias falhadas.
Nunca deixaste que te dessem a mão, de pensar que existias apenas como tu és, nada mais. Nunca deixaste de pensar no que é sofrer porque sabias o que te prendia, o que te agarrava a um outro mundo, não este.
Deixei de espreitar por detrás da tua porta com a mesma vergonha que um dia me fez olhar-te só.
Nunca acreditei em caprichos do acaso, quando sabia que tudo mais era apenas uma paisagem por ti criada, de quem no fundo sempre se escondeu do que sentia.
Vives submissa de um passado, de uma outra alma que nada mais tem para te dar, mas nem por isso se fecharam os braços, mesmo quando sempre fechaste os olhos e pensaste que não podias estar ali, não agora, não hoje.
Fazes um luto que só tu vives e só tu queres entender. Sem atalhos, pois o pleno do teu sofrer vive-se de formas facéis e tão pouco contundentes, que de tão arbitrárias serem, te deixam sem forças, te apagam, te consomem.
Vive o teu sonho, mesmo que tenhas a certeza que vais sofrer mais uma vez, nem que seja apenas por mais um momento, mas vive-o.

Significados...

A vida persegue-nos em cada momento que nos destrói. Sabemos bem o que é saber bem, ousamos e usamos o que, e até quando achamos melhor, somos donos de nós, ou pelo menos gostamos de acreditar que sim.
Na estrada que atravessa os sentidos em direcção a um universo cheio de nada, fomos os primeiros a dizer que existia, e eu o último a acreditar no que ouvia. Fazemos da vida uma história rasurada com a tinta de um livro que nunca foi nosso.
Apenas nos cabe pontuar aquilo que alguém um dia gostou de escrever por nós.
Ficariam os doces momentos e deixada a agrura de um perfume pautado de palavras vazias de um vazio de sabor.
Há sempre alguém que se esconde na lua do que diz ser instável, e se encontre distraída com tudo o resto que por si passa.
Significados sem cor.

segunda-feira, junho 25, 2007

Ponto final

Depois de me teres visto a beber da minha própria tristeza não consigo ouvir mais que o respirar de um momento que por mim passou, e que ficou, sem pedir razão, nem talvez um quê, nem advinhando um porquê.
A música que tombou a meus pés num dia que acordou triste mas sereno, apenas nasceu da vontade de olhar e não voltar a perder, e tão fácil que é perdermo-nos no nosso próprio silêncio, ou até mesmo, nos traços de uma flor, que nos transforma a noite em dia, e nos faz sonhar quando apenas o que queremos é acordar com um sorriso.
As notas da tua pauta sublimam uma saudade sentida mas nem por isso ouvida, na maior sinfonia que é o mar da tua vida.
Ponto final.

quinta-feira, junho 21, 2007

Branca...

Foi de branco que se vestiu a noite.
A entrega, a fuga, o desejo, a saudade, tudo era branco e nada mais foi, que branco. Simplesmente branco.O significado, a delicadeza dos gestos e emoções de quem não se arrepende um minuto sequer da vontade que foi sentir, cheirar, ver, um momento só, mas de verdade.
Apenas uma página do que se perdeu. Esta sim também branca, apenas marcada pelo toque suave de um desejo, que não se chegou a escrever, nem a pintar, apenas sonhar que sim.
Talvez mais um erro sem resposta, nem sei porquê...

quarta-feira, junho 20, 2007

Inócuo...

As palavras têm um poder de dizer que não a tudo, mesmo que esse tudo, nada mais seja do que algo que nos transporta, nos molda, nos faz voar e tantas vezes cair.
Alguém dizia que as palavras podem ser mentirosas, e não apenas sempre mentirosas. Hoje sei que as palavras não mentem, apenas descrevem na folha dos sentidos tudo o que veem, ouvem e sentem. Não poderei nunca acreditar nas cores que nos invadem e se dispersam, sem sabor, sem perfume, sem vida...
De que vale inebriar com palavras todas as formas tão falsas de sentimentos? Voltas que se dão ao mundo e não se encontram razões, sentidos e vontades, quanto mais dar uso a palavras escravas do nosso sentir...
Do silêncio se fez sempre o maior escudo, do medo a maior espada, e de uma batalha rendida, o caminho para a sua fuga...
Assim foi, assim é e sempre assim será...

Rasto...

As luzes apagaram-se num noite despida de preconceitos. Contavam-se as velas que num gesto disforme contornavam o negro que insistia em ocultar o toque desarranjado, próprio de quem não se vê, apenas se sente.
Esta sublime viagem que começou em lado nenhum, nunca chegaria a acabar para que se escrevesse uma epopeia, talvez nem sequer uma aventura.
Palavras tomadas num desejo sem história, pairavam na alma de quem um dia perante a nudez das mesmas, as reprimiu, sem que pensasse sequer que nunca essa pintura deixaria a sua tinta secar, mesmo antes de a destruir com a força de um silêncio que se julgou nunca existir senão ali, no agora.
A tua arte parou de fintar o olhar para começar a contar as nuvens cinzentas de uma paisagem sonhada por ti, intemporal como o vazio das músicas que um dia te pertenceram. Só um dia, talvez não agora, talvez porque a melodia se desvaneceu na timidez do tempo que insiste em passar e em não olhar.
Talvez daí o silêncio...
Talvez...

terça-feira, junho 19, 2007

Sombras amargas...

A verdade das palavras está unicamente em quem as lê, balbuciando sempre uma vontade amarga de reconhecer um doce sabor em quem nelas acredita. Desta forma, não há que ser mais nem melhor, apenas dotar a nossa realidade de tudo o que nos torna efectivamente reais, sem máscaras, sem rascunhos, sem ensaios.
Chegamos a uma altura em que gostamos de viajar pelos demais e não encontramos uma fórmula mágica que nos permita regressar sempre que desejamos faze-lo. Tudo isto nos obriga a uma verdade, em ser verdadeiros com tudo o que nos rodeia e nos toca. Por muito que enchamos de figuras de estilo tudo o que escrevemos, falamos, desenhamos, tudo acaba por nos parecer demasiado, perante aquilo que nos é mostrado, perante os outros, já como impossivel. Não temos que nos julgar admirados, quando quem o resolve fazer cegamente, o faz e se perde dentro das suas próprias razões, sem realmente as entender, só por aí errando.
Não me interessa nunca escrever e ser perceptível a quem lê as palavras que escrevo.
Nunca nenhuma palavra que escrevi foi rasurada, ou até mesmo apagada pela sombra de um quadro anónimo que um dia me inspirou.
A verdade é que esse quadro nunca existiu para além das palavras de quem o escreveu um dia...

segunda-feira, junho 18, 2007

A tua arte...

Não existem respostas fáceis, quanto mais pensar que para tudo há uma resposta.
Abusar das palavras de outrora para justificar os nossos próprios actos, quando esses sim, implicam sentir prazer, dor, mágoa e toda uma confusão de sentidos que um dia nos deixou sem ar, isso sim, é algo que a obscuridade, ela própria permite comungar.
De que vale dar vida ás palavras, quando elas não são nossas? de que vale fugir em direcção ao nada, quando o que um dia se pintou é tudo? Não existe nada de concreto, nada de permissivo que nos permita descobrir, viajar, para além de tudo mais que nos deixou tão sós.
Olhamos então em frente, e vemos que ao nosso lado nada mais há que um vazio que o tempo nos fará entender, ou então não.
Nunca nos julgámos, deixemos então que o tempo o faça por nós, nos desperte, nos chame, não tornemos vulgares as palavras que de tanto uso, passaram a valer aquilo que a sua própria natureza contrapõe, o nada.
O jogo dos sentidos termina onde inicia a ausência da verdade, e esta fronteira nunca foi ténue nem imperceptível, existiu sempre.
A minha arte nunca me deixou esconder, nem fugir, quanto mais pensar.
A minha arte nunca foi a tua arte.

quinta-feira, junho 14, 2007

...

De que nos serve tentar partir no momento em que nós mais queremos ficar, de tapar os olhos com umas mãos que não são nossas, quando o que queremos na realidade é ver mais além. Prender os nossos movimentos, se o que fazemos na verdade é prendermo-nos a nós mesmos sem que isso signifique uma solução para aquilo que desejámos ser sincero e só aí perdermo-nos nos nossos próprios sentidos.
O medo que nos transfigura os gestos, que nos revolta e nos molda, faz-nos deixar de escrever, pintar, de saudar quem passa por nós, e nos faz fechar a porta de uma vida que parece não ter mais para se viver.
No final desta história nada mais conta, nada mais existe do que uma vontade, só uma vontade, tão única quanto verdadeira, reprimida pelo olhar que se desvaneceu no tempo e por aí desapareceu...
Não sei se voltas a pintar com as tuas cores, os dias que passam por nós...
Perdi-me...

quarta-feira, junho 13, 2007

Tela...

Falámos um dia das cores que nos faziam despertar os sentidos e encontrei na tua pele, o preto e o branco, ao te procurar nos teus olhos e por aí me tentar perder contigo.
Acho que fomos o mais e o menos durante os breves segundos que nos fizeram sorrir, sei que olhámos as distâncias dos astros que nos adormecem nos sonhos pensados e sonhados por nós e que me lembro de te ouvir sussurrar que eras uma mulher de duas luas...
Foi um silêncio deliciosamente ensurdecedor...
Fascina-me a noite, e falo disto com o pensamento ofegante como só assim o consigo escrever, porém não cansado do negro manto que nos envolve num silêncio doce de quem não quer partir mas que só por esse motivo tem medo de ficar.
Tens duas cores, tens duas almas, tens o preto, tens o branco, será que também voas? Como conquistas cada fracção que passa de um tempo que não pára?
E a tua tela, que cores tem a tua tela?
Perdi-me...

segunda-feira, abril 23, 2007

Confuso?

Um dia tudo terá uma explicação...
Tudo fará um sentido, o mesmo que nos faz acordar de manhã com um sorriso no rosto, daqueles de um dia de verão sabes? esse mesmo... ao som daquela música, essa tal que agora se arrasta na tua memória e te faz corar.
Um dia, as palavras farão sentido quando nelas te revires ao olhares para as páginas do livro que nunca chegámos a terminar e pensares que tudo tem um fim, como antes, bem antes do sol se pôr, o momento em que nos transformámos num início de algo mais, nos transcende.
Olha agora em frente e esquece tudo, não te unas a um passado que te tortura e te faz escrava de pensamentos de um amor que te prendeu e que sempre julgaste que te libertaria. Somos o que escrevemos e não o que falamos, não há forma de nos libertar das frases que escrevemos, enquanto as palavras que tombamos gravemente se desvanecem neste ar quente que não nos deixa respirar e nos limita.
Já o olhar, esse, perde-se em tudo mais que insiste em não nos deixar, talvez enebriado pelo tom de voz embargada e sentida de quem um dia partiu.
Um dia tudo terá uma explicação... Tudo fará um sentido... Talvez ao som daquela musica, aquela mesma que agora tanto queres ouvir e recordar...
Confuso?

sábado, abril 14, 2007

Não...

Não sabemos amar, não sabemos cuidar de quem dizemos amar, não sabemos o que é o amor, pois sempre que nele pensamos deprimimos o mais profundo dos sentimentos que outrora julgámos libertador.
Somos condicionados pelos olhares que nos arrastam em formas retorcidas de uma traição injusta aos sentimentos que nos consumiram no passado e que nada mais são, do que subtis enganos tão naturais na vida que nos fazem viver e que tão vulgarmente chamamos presente. Talvez num assumido grito de revolta, nos expomos áquilo que nunca quisémos assumir como nosso mas que com isso vamos sobrevivendo, justificando tudo o que fazemos, com os actos que imputamos a alguém que julgamos que nos persegue e só por isso não nos deixa respirar.
Fugimos da vontade de dizer não, quando esse não é a resposta que nunca quisémos dar de tão verdadeira ser. Negamos o prazer, as viagens da libido que nos transforma em seres tão fisicos quanto reais, quando é aí que encontramos o pleno equilibrio entre dois seres que se desejam, mas que de tando fugirem se destroem com arrepios em forma de palavras duras e batalhadas no campo de um amor já infértil, antes consumido por uma chama a que também chamámos paixão.
Nunca foi tão dificil dizer amor, quando amar é um verbo que persiste nos nossos piores momentos e subsiste nas mais longas noites que esperámos sempre que nunca chegassem ao fim e aí sim, fizémos por conquistar a imortalidade, tantas vezes abraçada pelo calor dos segundos que teimavam em nos apressar, e que ao mesmo tempo nos seduziam e nos faziam ficar mais um pouco.
Desaparecemos de um mapa, de um norte, daquele mesmo que nos conduziu na mais pura e sentida das viagens que insistimos em recordar como irrepetível e só isso nos faz desligar de um mundo que já esteve aos nossos pés e que agora se desvaneceu na mesma rua em que nos conhecemos um dia...

terça-feira, fevereiro 20, 2007

História de um dia...

... Senti-te feliz mesmo estando longe de algo que me lembrasse de ti. Nunca mais escrevemos, nunca mais te escrevi, ambos fugimos de tudo, e encantámo-nos com outras paisagens que nos apaixonaram pelo silêncio que nos traziam.
Somos um engano, uma fraude para quem nos julga ter, embora sós, mas sempre com a sombra da saudade a deixar-nos tão longe de quem nos toma por culpados de um sentir que em nós julgam viver. Ditamos sortes ao som de uma história construída com quase nada, mas que para nós, agora mais que nunca, significa um tudo tão frágil, quanto as páginas que rasgámos juntos de um passado que agora nos desmente. Vivemos na penumbra dos minutos que percorrem as nossas palavras em sentidos opostos das certezas que as constroem (...) porém sobrevivemos...

Calar...

Apetece-me calar-te o silêncio, de uma forma tão pouco hóstil quanto terna é a vontade de me tornar um passo no areal das memórias de uma vida, na qual passei e não fiquei. Podes não adorar a noite, mas veneras quem te olhou como hoje te vês, num espelho que construíste como um tal castelo feito de uma pedra rara, como só tu soubeste esconder na obscuridade das palavras de saudade que me deixaste em forma de lágrimas sentidas.
Deixa-me olhar-te nos olhos, cantar-te a mais bela das histórias e desenhar-te os romances que te prometi outrora escrever, mas que ficaram na neblina de uma manhã em que saíste e nunca mais voltaste, em que ficaste e eu parti, sem mais olhar para trás...

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Pimenta da vida...

A pimenta da vida, é o melhor do jogo que nasce da imaginação, que apaixona, distrai, constrói, e faz-nos vencer quando tudo mais parece estar longe e infinitamente cansado. É um adeus, é uma paixão, é uma saudade, é tudo o que faz estar no topo de tudo mais, que de tão pequeno ser, não é menos que uma conquista, que um prazer. Voltamos a página da vida com a certeza que acordamos num outro mundo, com uma outra vontade de tudo ser nosso, e ninguém mais nos tocar, sem ser aquela pessoa que conosco joga o perigo, partilha sorrisos e nos termina os choros.
É descansar de tanto, quando o pouco para nós não é mais que um passado, que por assim ser já nos terá marcado, e de uma vida que queremos melhor. Não é um passatempo, mas antes uma soma de vontades promíscuas, de fugas e devaneios, de conquistas e de derrotas, de viagens de ida, sem regresso anunciado. Tudo aquilo que nos faz cantar de manhã, sorrir mesmo quando acordamos sós, pois ontem passámos limites, saltámos barreiras, fomos tudo aquilo que julgámos querer ser os dias inteiros que por vezes passam por nós. Deliciamo-nos com as letras, com as músicas, com o toque que imaginamos ser único, pois só assim poderá ser, não há outra forma de temperar a vida, senão com a força de um toque que molda todo e qualquer sabor, quando tudo nos parece sem sal. Estamos nas mãos de alguém, existimos e consentimos tudo isso, apenas uma forma de criar ilusões, despertar paixões, sempre com a esperança de um dia caminhar junto a um qualquer mar, com uma brisa tão morna, quanto as noites de verão assim permitem. Olhar horizontes, desenhar e traçar rumos numa areia que nunca nos conheceu, senão no sonho que agora vivemos, até esperar que alguém nos acorde, ou um toque nos obrigue a abrir os olhos para um mundo que desejamos ser como sonhámos. Tudo se volta a repetir mais tarde, quando fizermos da cama, o repouso, e o nosso fechar de olhos nos leve em mais uma partida em direcção á conquista da pimenta da vida, e assim vivemos, à espera da próxima palavra, na ânsia. Pois é bom viver aguardando noticias, mesmo que isso demore dias, faz-nos sentir vivos e prontos para cometer a maior das loucuras quando respondermos á primeira pergunta, e por isso resistimos, mas vencemos quase sempre, pois o nosso toque será sempre a pimenta na vida de alguém.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Por ora...

Outro tempo, esse, em que viveríamos na incerteza tão pouco casuística de ser, e não deixando com isso de o ser, só porque sempre nos vimos assim, sem que fossemos um pouco mais do que hoje somos, e apenas isso mesmo, como uma réstia daquilo que julgámos estar rendido aos encantos e entre tantos de uma vida que insistimos em viver por nós e não por ninguém, como há sempre alguém que assim almeja. Sabemos então, que tantas vezes existimos porque alguém se lembrou de nos acordar a quando do nosso melhor sono, e só assim é, porque nos deitámos ao largo da perseverança quando ela suspirava uma calma tão paciente quanto imprudente seria o nosso olhar semi-cerrado e embrulhado nas emoções tão quentes que esse porto que nos fascina, nos guarda.
Deixamos tudo para trás, mesmo despojados de certezas, e agarramo-nos ao que não sendo físico, nos faz tão bem quanto possível é sonhar fazê-lo.
Partimos cheios de razão ao dizer que embarcámos na viagem da nossa vida, quando somente zarpámos rumo aquela vontade sentida que por ora desejamos ser eterna.