terça-feira, janeiro 31, 2006

As palavras e os actos...

Somos traídos, hoje, pelo mesmo olhar que sempre nos impediu de ver mais longe, de ver para além daquilo que julgámos nunca presente e sempre ausente de uma vida que pensámos nossa, mas que partilhámos sempre com alguém. Até as palavras soam falsas, quando dilaceradas pela mesma voz que um dia teve a certeza do que seria um futuro tão próximo de um adeus tão previsível e de um sentimento que continuaria a ensombrar a despedida tardia de quem sentia e não partia. Mesmo naqueles momentos que outros julgaram de uma ardente paixão, nada destronaria um desejo que haveria de continuar incólume lá bem no topo de um horizonte que nunca chegou a existir. De tão fácil serem essas palavras, nunca chegam a ser mágicas, se não forem verdadeiramente nossas. Mesmo assim, insiste-se na leviandade daqueles mesmos gestos que não permitem por si só, chamar a si um perfeito acto de amor, quando esse amor não passou de um frágil devaneio de uma alma que por uma só vez se julgou só... As palavras e os actos...

sábado, janeiro 28, 2006

"A soma da (TUA) diferença"

Damos total liberdade ao sexto sentido, tão falado e deveras inexistente em tantos e proeminente em alguns. Conquistamos um pouco de alguém para nesse mesmo segundo perdermos um pouco de nós, numa réstia de tempo em que somos donos de uma dúzia de palavras que nós próprios decidimos convir, perante o que para nós, é belo. Rendemo-nos ás evidências de quem de uma forma ou outra, terá querido furtar em nome de uma causa que todos nós julgamos honrosa, sem que tivéssemos tentado sequer, abrir um pouco do nosso eu, para quem desde sempre quis conhecer a nossa verdadeira essência. De resto, estaremos a construír uma ilusão, que de tão neblosa ser, só o tempo perdoará, ou até questionará.
Não sendo fútil agarrarmo-nos ao sentimento de outrém, é de certa forma correcto fazê-lo por actos e não por qualquer omissão das palavras escolhidas e que tornámos nossas.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Palavras

Ser narrador de uma história que não escrevi, é quase tão dificil, como desenhar a face desdenhosa de quem traiu a saudade em função de uma fútil vontade e de um prazer momentâneo, que é no fim de contas amar, quem nunca se julgou amado.
De livro aberto recitamos frases, que não sendo nossas, as adoptamos como tais, e vivemo-las com o mesmo fervor de quem as chorou, as escreveu e as viveu. Usamos as letras em função do que sentimos sem nunca pensar que plagiamos um sentimento que nunca foi verdadeiramente nosso para que o possamos, como outros, realmente dar alma ao que se escreve. Afinal, nunca se tratou de preencher com cores garridas palavras de um só sentido, pois sempre caminhámos em direcção a uma ilusão que certamente construímos sem nunca nos julgarmos absurdos ao fazê-lo.Deixamos então de julgar a vontade de uma sapiência que nos desgasta, para embarcarmos numa viagem que outros arriscaram por nós e assim, um caminho ao qual nos rendemos desde cedo, já descoberto e tão mais fácil.
É bom sentir cada palavra que escrevemos, sem o medo de errar no caminho que tomamos para a escrever...

domingo, janeiro 15, 2006

(sem título)

Continuo a tergiversar quando me perguntam por mim mesmo e alego não existir mais. Percorrer as páginas daqueles livros que tanto têm de enfadonho como de cruéis devoradores de tempo tão oportuno, é como preencher de espaços vazios um deserto povoado de nada. É por isso que não deixo de crer que já nem o descanso por ora, descansa os sentidos perdidos num tempo qualquer diante de coisa alguma. Valemos então pelo que nos dizem valer, no preciso momento em que decidimos tornar a uma história que deixámos por escrever e cuidamos em dar-lhe vida. Voltamos ao que sempre menosprezámos e como um qualquer títere puxamos os seus barbantes na tímida tentativa de fazer viver o que se abandonou sem mágoa e sem saudade. Conscientes, que todo esse egoísmo que nos acalenta a sede de tornar a viver o passado, por si só derruba as fronteiras do absurdo e irrompe em caminhos cuidados da vida de alguém. Mas, deixar de viver de erros, para que esses mesmos erros o deixem de ser como desde sempre os vimos, pressupõe voltar atrás e desdobrar as folhas do passado, e é tão mais fácil fazê-lo no séquito de alguém...

sábado, janeiro 14, 2006

Acordar...

Alvorecer iluminado pela mesma luz que nos acompanhou até ao derradeiro momento em que decidimos fechar os olhos e entregarmo-nos nas mãos de um sono tantas vezes repetido, mas tão sedutor, é por vezes tão cruel como saber que fazemos parte da panóplia de medos de alguém, e que a solução para esses mesmos medos deixarão de existir no preciso momento em que decidirmos abrir os olhos que fechámos ao adormecer.
Acordamos sem sentido e mais uma vez sem rumo, seguimos em direcção ao nada e por lá ficamos a vaguear longos instantes, como um qualquer barco que navega até porto incerto e vai pernoitando em mar aberto. Somos eternos conquistadores de horizontes que uma vez sonhámos nossos e fazemos disso a nossa utopia, em que nos fazemos de cegos, surdos e mudos na procura de algo que só nós sabemos que nunca existiu mas que é tão importante para nós.
Essa viagem decidimos fazê-la sozinhos, sem que haja medos nem tormentas que nos acossem a melodia que trauteamos em cada passo que damos.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

A não sei quem...

...Fiz de um pouco de papel uma recordação minha, que dei a alguém e não sei bem quem, nesse papel desenhei letras e pontuações e do pouco que me restava escrevi um poema para ti, não sei quem. Não sei de quem eram essas lágrimas que corriam de um rosto que provi nu com olhos igualmente nus, e continuo sem saber quem és, enquanto desdobras esse papel, na ansiedade que julguei não partilhar com mais ninguém, desembrulhaste um pco de mim, e o que seria de nós, sem ti. É de certo uma surpresa quando me refiro a ti, e sem mágoa alguma te revejo na distância de um mapa já gasto, e sei que nesta mesma mesa em forma de quadrado nunca conseguimos dizer um adeus e vender um pouco de nós, selando tamanha barbárie com um forte e solitário abraço. Só sei porém que os dias correm e da inércia fogem e que tu apanhaste a boleia de um desses mesmos dias em direcção a lugar nenhum sem olhar para trás com a altivez de uma decisão para a qual nem tu mesmo pensavas correcta. Viverás os dias com o peso de um adeus que não soubeste dizer, e com um passado que parece que tendes esquecer. Fazes de todas as coisas reais um jogo e sem sentimento algum tentas compreender que essas mesmas coisas, fazendo parte dos teus dias nunca foram diferentes umas das outras. Dás mais atenção ao que olhas do que ao que sentes, e fazes dos tais momentos sentimentos vulgares e iguais. Aguardo expectante o nosso encontro, para que juntos possamos definir a amizade...