domingo, março 19, 2006

(...)

...Choravas como ninguém, por esse teu rosto de sombras tão delicadas, corriam as não menos delicadas lágrimas que de tão doces serem, adoçavam ainda mais os teus lábios, que por tão doce saberem, invejavam quem os beijava. Não acreditavas em romances até teres vivido um, julgados todos pelo mesmo não deixavas nunca de acreditar no amor. Não serias mais do que a fonte de um desejo, e essas lágrimas que outrora falava, não seriam mais do que um espelho que almejava uma qualquer alma em desassossego mas nem por isso só... quanto menos escrevesse mais acreditava em tudo aquilo que a linguagem não permitia ousar. Mas nem a ousadia te fazia deprezar as letras e por aí nos fomos degladiando, até à récita final, em que eu escrevia e tu coravas, em que eu lia e tu sorrias, e foi numa qualquer frase desenhada sem pudor que ficámos abraçados a um passado que não mais nos largou no presente. E por aí vamos pernoitando, sem regras e sem limites, só mesmo a saudade nos faz sentir tão vivos...

Desafios

(...) Por fim, acho que não saberei nunca falar de amor nas palavras que escrevo, apenas ignoro o que odeio e sei que não odeio quem ama e quem se ama. Desvalorizo a importância de tudo o que tem forma, prefiro procurar outra riqueza, em algo que desconheço qualquer valor, podendo assim alimentar mais um pouco a ignorância que faz de mim um desconhecido e me acompanha em cada passo em falso que dou.
Quero acreditar em tudo aquilo que outrora fazia correr a tinta em papiros toscos sedentos de um amor trágico, ou de um romance de felicidade impossível, mas que nem por isso culminaria com finais tristemente choráveis. Viveremos por isso, sempre longe de alcançar a perfeição de algo que nunca até ora definimos como certo mas que cedo nos apaixonou e nos desafiou em cada momento que passou diante nós, a encontrarmos a sua razão, a sua verdade e a fazer disso a nossa história.
Podemos viver a vida sem que para isso tenhamos que amar alguém, mas sabendo que todos nós amamos pelo menos uma vez na vida, só amando podemos pensar em viver sonhando, porque não fazer da vida um sonho... um desafio.

domingo, março 12, 2006

Mais...

Apelando a uma inquietude de um silêncio, tão pouco atroz, mas de formas sedutoras e inconstantes, deixamo-nos levar uma vez mais pelo silêncio que nos torna homens sós, e nem por isso seres pensantes.
Balbuciamos em noites desprovidas de um qualquer sentido, numa procura tão intensa quanto o mais possível vivida, uma resposta em sentido tão lato quanto possível, de algo mais, que de impreciso pouco tem, mas que diante de uma precisão que o caracteriza, não deixa de ser precisamente vago. Joga-se a fuga de tudo o resto e aguarda-se a vitória em maleitas tão pouco nobres mas de resto tão valiosas, para quem faz desta vida, uma vida única. Ouvimos falar e nem ligamos ao pouco que nos dizem, alheados de uma forma tão terna quanto o nosso pensar nos permite, ao despedirmo-nos da eterna constância, que é no fundo o que nos faz viver.
Nada iguais, não deixamos os limites serem reflexo do que somos incapazes de fazer, mas do que nos propomos lutar por mudar.
Filosofia de vidas transversais, em dias de uma tempestuosa verticalidade...

quarta-feira, março 08, 2006

Boa noite...

Aquela luz no fundo da sala convida-me a escrever até mais não, não me deixa parar de sentir e vicia-me os gestos que deixaram de ser meus para se tornarem medida de algo mais, que de forma momentânea e insane garantia ser inerte e sem vida. É daqueles momentos tão estranhos quanto transparentes, algo que me inspira e me recuso a esquecer, a apagar essa mesma fonte de todos os porquês e poder entregar-me nas mãos de um sono que tende em não me deixar irrequieto e faz de mim um ser moldável a um qualquer susto que pode num qualquer segundo me atormentar os sentidos já por si, adormecidos. Sem que perca as forças, recolher-me-ei junto da justa vontade que a sonolência acena á minha visão já turva e neblosa, lá bem ao fundo, aquela luz no fundo da sala, que me convidava a escrever até mais não, apaga-se docemente numa sala cheia de nada...

Insónias...

Crescemos a ouvir as mesmas palavras, que outrora foram de outra gente, e por muito sábias que sejam nunca chegam a ser verdadeiramente de quem as diz, mas sim de quem por ora as sentiu como ninguém.
Falamos pela eterna sede de quem fala por falar e não fala por sentir, por se angustiar e se torcer cada sílaba que se repete de uma forma tão única quanto esse timbre e essa voz, conseguem ser. Vamos despertando os mesmos sentidos que nunca escondemos ousar, aqueles que não nos deixam descansar numa vida que também não queremos que seja de paz, mas sim de terna lucidez enibriada por um qualquer perfume que nos apaixonou pelo menos uma vez, num qualquer segundo, num qualquer lugar. Associamos as pessoas a lugares tão pouco comuns, como aqueles que realmente nos marcaram como sendo unicamente nossos e não de alguém, de um desconhecido que não teria a cruel coragem de nos roubar um minuto sequer de um egoísmo que por assim ser, é só nosso. Assim voltamos as costas num sentido errado da nossa vida, naquele momento em que conduzimos o sonho de uma vida e que nos faz andar perdidos, ao sabor de uma qualquer brisa que não nos deixa viajar por milhas, mas também não nos deixa pousar em sitio algum.
Histórias mal contadas que passamos uma vida inteira a viver...