domingo, novembro 27, 2005

Ad kalendas grecas

Não encontro de maneira nenhuma, na objectividade das palavras dos outros, uma qualquer resposta à subjectividade das minhas. Por isso é que escrevo de uma forma alheada do tempo mas bem ciente do espaço que essas mesmas palavras desenhadas e sem cor, ocupam, na minha vida e na vida de quem as lê.
Só são realidade para quem resolve preencher a sua vida da mesma forma que eu o fiz quando as resolvi escrever. Não desconsidero as palavras que escrevo ao ponto de censurar quem as interpreta da maneira que o faz. Tudo isso tem uma razão de ser, e cada um de nós vive com essa mesma razão, e lida com ela da forma mais delicada que quer e sabe.
Ad kalendas grecas (nunca), tento revisitar memórias que partilho com alguém, e essas sim são minhas, da mesma forma que cada pessoa lê e sente de uma forma singular, também para mim, e porque não sou diferente, me reservo esse direito.

sábado, novembro 26, 2005

O meu primeiro desencontro...

Convidaste-me para um desencontro. E eu aceitei. Foi nessa altura que entendi ipsis verbis que serias mais uma miragem num longo caminho de uma curta vida - a minha. Confesso, sem qualquer sombra de dúvida, que este foi o meu primeiro desencontro, aquele, para o qual fui convidado.
Estranho achei eu, e ainda agora me mostro surpreendido. Mas não em excesso, pois continuo a acreditar que nada terá sido premeditado e foram palavras que saíram sem qualquer sentido, ou então não. Ouço de ti mais do que uma vontade, uma sugestão dita em tons de ironia e preenchida por uma tal certeza, que me atrevo mesmo a dizer, que a paixão é isso mesmo, transforma, molda, mas também empalidece quem até então brilhou. Sempre tentei minorar pensamentos, que de alguma forma fossem perturbadores de um sossego tão merecido de uma alma em constante transtorno, no entanto fracassei por inteiro, pois deixo que esses pensamentos tomem conta de mim. Assim, parto para esse desencontro, o meu primeiro, não com palavras de conquista, mas como uma emoção contida e fria, que me levam a entregar por inteiro a minha razão e submeter-me á vontade do teu coração.
A ti digo-te adeus, e até ao próximo desencontro.

sábado, novembro 19, 2005

Ser importante na vida de alguém....

Quando é que que somos realmente importantes na vida de alguém? É só quando desvanecemos? Ou quando fazemos sofrer uma pessoa e ela num acto de reflexo inerente á natureza humana se defende, e se dirige a nós? Tenho sérias dúvidas que tudo não passe de uma falácia, inventada por mentes desocupadas da rotina de um qualquer ser comum.
Na verdade, nem todos nos julgamos amados nesta vida, ainda mais verdade é, quando nós próprios nos transformamos num óbice na vida de alguém, aí passamos de vísivel incómodo, a seres insensíveis, num ápice, sem olhos para uma clara impertinência que julgamos até então, tão natural como outra coisa qualquer.
Ser importante é estar presente, não sei no entanto se será assim uma verdade tão grande que nos permita universalizar tamanho adágio, embora o facto de estarmos fisicamente perto de alguém nos leve a estar ao mesmo tempo próximos da tentação de ser amados e amar, ou ser odiados e odiar. É então um risco que decidimos correr, se formos demasiado atentos á natureza humana e por isso sensíveis, fazemos de tudo para que o sofrimento saia do dicionário de uma qualquer relação, senão, estamos sujeitos a ver-nos enredados numa teia, que nos aprisiona ao medo de uma avaliação constante por parte de outrém que nos irá julgar ao milímetro na sua escala de importância. A solução é simples, senão vejamos, será assim tão obstinado sermos importantes para alguém, de tal forma que nos leve a viver na obsessão de o sermos, sem que para isso tenhamos certeza que realmente é isso que nos irá fazer feliz numa qualquer e vulgar relação?
Ou então porque é que não se vive sem o peso da responsabilidade de tentar ter uma posição naturalmente conquistada na vida desse alguém sem que para isso se precise de fazer o que quer que seja, para além de se viver a vida?
Não ter que estar preso ao olhar de ninguém a não ser ao nosso próprio reflexo, enquanto seres livres que somos, eis a solução.

quarta-feira, novembro 16, 2005

As palavras e o passado...

Hoje o tempo trouxe-me à memória palavras que a recordação quis esconder de mim.
Não sei o que pensei no momento em que os meus olhos passaram diante dessas palavras tão antigas mas nem por isso ausentes desta vida. Resolvi acolhê-las com uma saudade imensa, como um qualquer pai que abraça um filho, recolhi-me num movimento perpétuo para pensar no que até então estava escrito e o porquê dessas saudosas palavras. Para mim, nada mais que recordar um sentimento arcaico.
Como companhia escolhi a saudade, como ouvintes a memória e a paixão, essa mesma paixão, que na altura fora cúmplice na escolha dessas palavras. Ali estivémos um tempo sem fim, no meio de uma turbulência de emoções em que recordámos mais do que os silêncios ternos e os gestos ocultos de vontades que eram comuns, o tempo, que conseguiu tudo isso. Mais que nos aproximar deu-nos motivos para continuar a escrever e recordar, tudo no passado, mas sempre a agarrar-nos a este presente que tende em não nos deixar livres. Somos por isso reféns do nosso próprio sentir, daquilo que transmitimos a uma só voz e escrevemos sem sequer pensar que poderá haver um futuro.
As letras fazem de nós seres audíveis e sempre presentes na vida de alguém, e a verdade é que temos tendência esquecer-nos disso...

domingo, novembro 13, 2005

A essência do teu ser...

Transfiguras toda aquela realidade que todos julgam inerte e sem vida. Despertas os sentidos com um só olhar, com um só toque, com uma só carícia... Tu és assim mesmo; é poder viajar no nosso mundo sem que para isso precisemos de sair de onde estamos, não precisamos de estar acompanhados para nos sentir bem e aconchegados quando os momentos são menos bons, tudo o que nos rodeia nos envolve, nos protege, nos faz sentir nós mesmos diante algo que nos entende, nos percebe e nos ouve. É uma parte de nós que se constrói, é um pouco de nós que partilhamos com o desconhecido, é algo mais do que construir, é o acto de oferecer aquilo que para nós realmente interessa e nos estimula, para quem passa, para quem olha, para quem sente. Damos sentido aos sentidos que outrora foram só nossos e que resolvemos partilhar, é um pouco de nós que parte, mas que nunca nos é subtraído... Esta é a verdadeira essência do teu ser...

sábado, novembro 12, 2005

Epílogo do adeus...

Somos eternos escravos das palavras que escrevemos, não somos por isso seres inteiros, somos pessoas de um só sentimento e de uma só conquista, somos fruto das situações que nós próprios criamos, que teimam em se transformar em derrotas mesmo quando sempre jurámos vitórias, e até nisso somos perseguidos pelo que escrevemos e pelo que desejamos. Somos frágeis no sentir mas fortes no agir, não pensamos sequer no que é dizer adeus a alguém e partir...
Dizer adeus não custa, o que custa é pensar em tudo aquilo que deixámos para trás. Só uma única palavra pode mudar a nossa vida e na mesma hora, a vida de alguém. Eu acredito que tudo isto será por si só de uma transparência amarga e de uma simplicidade obscura, mas então, acredito numa existência bipartida da palavra adeus, em que ao usá-la, mesmo antes de a definir já compreende uma separação física entre duas pessoas, acredito nisso. Acredito também que é uma palavra com mais significado do que aquele que lhe é atribuído naturalmente, é uma palavra que julgamos facilmente com uma força própria, que por si só, detém gestos, acções e sentimentos, é uma palavra que engloba em si, a distância e a ausência, é a prova mais precisa do início de uma saudade ou do fim de algo mais, é um vocábulo com vida própria e com a sua própria razão de existir, não precisa por isso mesmo, de uma qualquer outra conjugação para que tenha um significado maior do que aquele que lhe é incutido.
Então, o adeus é uma marca temporal, que nos ajuda a estabelecer um marco entre o passado e o presente, mas também entre a atitude certa e o primeiro passo para o arrependimento, mas esse se vier, virá mais tarde, naturalmente. Mas uma certeza tenho, que o tempo não volta para trás, e um adeus é sempre um adeus... desde que verdadeiro e sentido como saudade, como todos nós o desejamos sentir...

terça-feira, novembro 08, 2005

Almas gémeas...

Sou crente em tudo que nos faz sentir, naquilo que nos faz ser nós mesmos naqueles dias e noites inertes e sem cor. É fácil acreditarmos que para nós existe aquele alguém que lá longe pensará da mesma forma que nós, que nos alimenta uma sede tão amarga da solidão, mas que no fundo só assim será, porque nós assim pensamos.
No entanto é bom sonhar, e quem disse o contrário? A verdade é que os dias correm de uma forma angustiante para quem procura e nada encontra e de uma maneira harmoniosa (julgamos nós) para quem finalmente achou o que procurava. Será então tudo uma questão de sorte (pensamos), ou de azar, é então um jogo, em que temos a felicidade ou não, de viver momentos de um subtil delírio que é aproveitar quem conquistamos. Seria tudo então tão simples como aguardar, num qualquer banco de jardim, que um estranho se incumbisse da missão de nos alegrar e nos pintar a vida de cores bem mais alegres do que aquelas em que vivemos até então. É um engano, julgar que a felicidade vem ter junto de nós, e dessa forma nos ajudará a caminhar a passos largos para um final tão feliz quanto romântico. Desta forma não critico quem corre atrás, quem se julga eternamente amante e promete para uma vida inteira, mas sim aqueles que julgam que ser feliz é esperar e não lutar, dar hipótese ao tempo e à sua tirania de mudar o fado... o caminho para a felicidade somos nós quem o fazemos, a questão que se põe é: queremos ajuda para fazer esse mesmo caminho? e depois de feito? queremos companhia para de mão dada caminhar até ao destino? A alma gémea tudo sabe, e tudo esconde, até ao momento em que ficamos sem respostas e ela com a solução, aí sim, somos felizes.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Intemporal...

Quando escrever se torna um hábito, e esse mesmo hábito, um vício mau, quando as palavras apesar de cegas e mudas, caminham sempre no mesmo sentido e tudo isso nos cansa e nos deprime, é então que surge a verdade de que algo que sempre defendemos como verdadeiro e que sentimos como nosso, se transforma, e com isso, os textos rasgados e os livros que prometemos escrever, mais que tudo, frases incompletas e almas destruídas, num só caminho...
É esse mesmo trilho que traçamos sem destino, e o percorremos sem muitas vezes olhar para trás, é isso que chamamos vida, nada mais que isso.
Falava outrora desse mesmo caminho, como uma estrada intemporal, num qualquer lugar, mas que sendo ladeada por frondosas árvores que muitas vezes prometeram sombra nos dias de calor, e abrigo em dias tempestuosos, não passaria no entanto disso mesmo, da ignorância de alguém que pensava que podia ter tudo e ser tudo de uma só vez, impossível. A verdade é que tão cedo julgo que essa estrada existe mesmo, e sonho com ela, como tenho a certeza da mesma forma, que não passa disso mesmo, de um sonho. No entanto só me resta aguardar pelos momentos que se seguem, sempre na companhia das palavras que segundo dizem são o espelho mais bem cuidado da nossa alma, e assim se persegue o sonho, e desistir nunca, porque um dia todos nós poderemos respirar debaixo de água... e sonhar é bom, pois é o único momento que é verdadeiramente nosso.