O amanhecer já forçado das horas que insistem em não te despertar e que voam pairando sobre os verbos de um livro que deixaste aberto, talvez caído, não sei... tal era a vontade que tinhas em partir... Jaz o capítulo de um tempo passado naquela mesma sala deserta de luz e cheia de um vazio de saudades de ti.
Olhas para aquelas cadeiras, que nunca te procuraram a atenção em momento algum e fazem-te lembrar que era ali que passavas os teus serões, em conversas amenizadas pelos copos cristalizados de um tempo duro, mas nunca vazios de conversas pouco lúcidas, tão pouco sóbrias. Reparas nos quadros, sem te perder nas pinturas, fixas o teu olhar crítico na distância que percorres milimetricamente na moldura que envolve as cores que um dia tiveram vida, mas que hoje não têm tom.
Contemplas as paredes já gastas pelo tempo e que tantas vezes serviram de fuga para o teu olhar, quando sobre ti se redobravam os outros olhares, com os quais não querias falar.
Tudo te faz recordar, o linho já desfeito de umas cortinas que tantas vezes te pareceram feitas de ferro nos momentos em que as lágrimas tomavam conta de ti, e tu apenas querias olhar mais além, mas só ali, só por aquela janela...
Mas hoje existia o espaço, o teu verdadeiro espaço, embora recordasses um passado sombrio e feito de um negro manto de razões que te fizeram partir....
Viveste tudo isto quando te lembraste de alguém...
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