domingo, outubro 30, 2005

Escrever no passado, pelo presente... (2) -a idade da loucura-

A verdade é que podemos viver uma vida inteira enganados acerca do que para nós é intemporal, que toda essa idade da loucura terá sido utópicamente construída numa base sem sentido, e por aí tudo começa a desmoronar-se, pelas incertezas.
Não é de todo irresponsável pensar que cada um de nós terá os seus limites, as suas fantasias e sonhos, e não somos egoístas por assim pensar, mas a verdade é que o tempo apesar de relativo, não é estático, e por assim ser, ao longo do tempo, por muito pouco que seja, dá-se a mudança e nada, nunca, fica igual. É bom pensar assim, eu sou fiel aos devaneios do tempo, saber que algo que não é físico, nos faz questionar sobre coisas terrenas, até outrora suficientemente sustentáveis em crenças nossas, é sem dúvida extraordinário, é o poder de conseguir pôr em causa tudo o que fazemos. De resto é um jogo desigual em que nós nunca podemos voltar atrás, porque o tempo só nos deixa visitar o passado, na memória, no sonho, mas nunca nos deixa mudá-lo. E isso enriquece o desejo de mudar, ajuda-nos a esperar pelo dia seguinte para tudo ser diferente, mas sempre com o tempo a jogar a nosso favor, ou contra nós, essa sim é a idade da loucura, tão relativa como o tempo quer que seja, mas é isso que nos faz sonhar, viver... nada mais que isso...

domingo, outubro 23, 2005

Escrever no passado, pelo presente...

Podem passar anos sem te ver, sabendo que a simples razão de existires é suficiente para mim.
Não é que tal me mantenha vivo num qualquer mundo, a sobreviver de algo do qual só tu sabes a fórmula, mas é talvez o suficiente para encontrar junto a ti uma fonte eterna de prazer, a qual me aguça a imaginação e de vez em quando, me permite voar e sonhar alto, o que tão poucos conseguem. És dona do céu, quem manda voar e pousar... assim ficamos, tu aí e eu aqui, como num qualquer jogo de sedução, em que nunca ninguém ganha, porque nenhum de nós o quer ganhar, somos os suspeitos do costume, e gostamos de viver assim, na cumplicidade de uma vontade que nunca desvance. Pelo contrário... só cresce! Com tudo isto esquecemos-nos de quem somos, que idade temos e onde vivemos, e de volta á realidade, descobrimos que vivemos longe deste mundo e a idade da loucura já terá, ou não, passado. Tudo isto termina onde começa o desejo... de respirar debaixo de água...

terça-feira, outubro 18, 2005

O que realmente importa...

Passam-se vários dias sem que não escutemos de alguém uma crítica de bom senso, que valorize o que realmente nós achamos importante e que para nós realmente seja pertinente. Não é uma revolta sem sentido, para isso, escutamos diáriamente vozes ocultas que nos fazem pensar se realmente valerá a pena, discutir, investir nas pessoas e declarar a política, a forma ideal de gerir poblemas num sistema já por si imperfeito mas a meu ver o ideal, o sistema democrático. Cabe-nos a nós, em pleno exercício de um dever (agora) natural, lidar com a democracia e mais importante que tudo, e começando, porque não, pela base, saber fazer política, trabalhar para ela e com ela. A política que se faz em Portugal é nula, é um modelo que não embarca em qualquer teoria política além fronteiras e que advém de uma mistura um pouco rebuscada entre um neo-liberalismo sem sentido e um socialismo com uma fraqueza já exacerbada e pouco consistente. É sem dúvida um reflexo dos tempos que correm, e de sucessivas teorias políticas falhadas, que tentaram "injectar", num país que sofre por viver uma jovem democracia e que nem por isso amadurece, e como tal, continuamos a ouvir a vox populi em queixas permanentes e sempre as mesmas, que criaram o hábito junto dos governantes de que seriam problemas irresolúveis, e a tornar crónicas as situações que mais preocupam quem tem de lidar diáriamente com elas, reflexo dessa mesma decadência e resultado de inoperâncias sucessivas e sem sentido por parte dos diferentes governantes.
As políticas sociais entram por isso em declínio, sofre com isso então quem menos tem, e a contestação aumenta, sendo então equacionada como solução, medidas com uma lógica economicista, e a meu ver as correctas, no sentido de objectivar uma melhoria quanto baste, caminhando lentamente nesta luta contra o marasmo em que nos encontramos actualmente. Tudo estaria correcto, e seria lógico se perante as medidas anunciadas e postas em prática, houvesse um consenso e menos manifestações de desacordo perante os grupos políticos e sindicatos, que tendem -naturalmente como oposição- entrar numa luta mediática e já por isso cansativa para quem os ouve, em que as críticas são feitas numa lógica populista e demagógica e por isso contra producente, em que não é minimamente objectivado, o bem comum, o país. A solução está por isso longe de ser alcançada e é tratada como utópica num país em que temos à frente dos partidos políticos, sindicatos e associações similares, quem opta pela contra-informação, pelo apelo ao boicote e á não produtividade, criando por isso, um ciclo vicioso, em que, quem trabalha protesta, e quem quer trabalhar não o faz, porque quem o faz, "combate" a produtividade protestando e invocando mais de um sistema que (para já) tenta recuperar de uma conjuntura que se foi agravando. Solução? porque não trabalhar em torno de um bem comum que é o desenvolvimento do país e levarmos o país para a frente, juntar as forças políticas e realmente trabalhar para um consenso, sem que haja protagonismos nem crises exacerbadas que têm como objectivo o voto fácil e não o bem nacional e da democracia. Ainda temos tanto que aprender, mas a juventude da democracia não é desculpa para tudo, e tudo acabará sempre por depender de nós mesmos. É o que realmente importa...

Porque sim...

Tenho cada vez mais a certeza que nada é eterno, que as certezas que vamos tendo ao longo da vida são cada vez menos nossas e rapidamente passam a ser vistas como as expectativas dos outros. Por isso não há como viver a vida longe do que os outros esperam, saber que há sempre alguém que leva um pouco de nós, mas sendo isso (por vezes) tão pouco, temos então o tempo todo do mundo para contrariar expectativas e rumar ás conquistas. Tudo o resto, pouco importa. Deixamos de ser nós quando nos pedem para assim ser, não que nos custe dizer não, custa-nos é pensar que os outros não vão gostar de o ouvir. É por isso que, nos dias que passam, cada vez mais de forma fulminante, tudo o que nós damos como nosso, acarreta uma carga tão nossa como de qualquer outra pessoa que conosco se relacione. Perdemos algo nosso quando nos moldamos perante alguém, deixamos que tudo o resto que sempre pensámos fútil e sem sentido tome conta de nós, nem que por breves segundos isso aconteça, a verdade é que acontece realmente. Tudo isto com um toque real de ingenuidade, de ignorância e desespero, tão natural da natureza humana, tão nossa... Por isso respirar debaixo de água, deixar que o sossego tome conta de nós... porque sim.