terça-feira, julho 24, 2007

Erudito..

'(...) Respirais desta escrita pagã que vos afoga o olhar na mais profunda lembrança que é estar viva.
De que noites vos lembrastes, sim vós, princesa desfeita por ferros atrozes que vos prendem nesse mundo maldito e vos mata num desassossego constante, pela vida que ousastes um dia poder pensar sonhar.
Que pecado é esse que vos torna parte de um gélido ardor que não deixa de fervilhar nos dedos de quem por vós escreve, sem que por isso vos deixe de tentear com olhos de uma censura galopante nos dias que vos maçam e vos transcendem.
Sinais de uma intempérie que se aproxima, mas nem por isso desdita, de um maior fim que um amor que paira tão perto e com um fulgor definitivamente vosso.
No vosso peito mora a mais bela história de amor, com todas as letras que vos tornam transparente como a água, que um dia brotou da fonte que vos apaixonou.
Trago amargo que não ireis esquecer nunca, da vontade vos privaram, esses vossos lábios, que um dia doces pareceram, numa noite de histórias contadas, essas sim sem história alguma (...) .'

terça-feira, julho 17, 2007

Deixa-te estar mais um pouco...

O amanhecer já forçado das horas que insistem em não te despertar e que voam pairando sobre os verbos de um livro que deixaste aberto, talvez caído, não sei... tal era a vontade que tinhas em partir... Jaz o capítulo de um tempo passado naquela mesma sala deserta de luz e cheia de um vazio de saudades de ti.
Olhas para aquelas cadeiras, que nunca te procuraram a atenção em momento algum e fazem-te lembrar que era ali que passavas os teus serões, em conversas amenizadas pelos copos cristalizados de um tempo duro, mas nunca vazios de conversas pouco lúcidas, tão pouco sóbrias. Reparas nos quadros, sem te perder nas pinturas, fixas o teu olhar crítico na distância que percorres milimetricamente na moldura que envolve as cores que um dia tiveram vida, mas que hoje não têm tom.
Contemplas as paredes já gastas pelo tempo e que tantas vezes serviram de fuga para o teu olhar, quando sobre ti se redobravam os outros olhares, com os quais não querias falar.
Tudo te faz recordar, o linho já desfeito de umas cortinas que tantas vezes te pareceram feitas de ferro nos momentos em que as lágrimas tomavam conta de ti, e tu apenas querias olhar mais além, mas só ali, só por aquela janela...
Mas hoje existia o espaço, o teu verdadeiro espaço, embora recordasses um passado sombrio e feito de um negro manto de razões que te fizeram partir....
Viveste tudo isto quando te lembraste de alguém...

segunda-feira, julho 16, 2007

Senta-te aqui...

Senta-te aqui junto a mim, encosta o teu ouvido à minha voz e deixa-te estar mais um pouco, talvez até amanhecer, não sei...
Adormecerás nos entretantos e em outros tantos momentos cederás à fraqueza de uma noite que vai chegando calma e serena, apenas degustada pelo negro calor de uma brisa tão quente como sufocante é o momento que nos assiste.
Talvez a sede nos tenha aproximado de um céu escuro, numa noite que não se quer de grandes conversas e onde apenas se procuram momentos de uma paz que tarda em vir e nos olha na distância de um mar sensato.
Acabamos por partir, se calhar falando pouco e olhando para um horizonte descoberto de certezas, onde o silêncio que nos percorre a pele nos arrepia num ápice de um pensamento que nos levou para bem longe dali.
Deixamo-nos estar, mesmo sem grandes conversas, apenas olhando para lá de tudo mais e dando espaço a vontade de apenas estar.
A indolência do tempo deixa-nos fraquejar perante uma noite que já madrugou, encontramo-nos num outro mundo, adormecida que estás, no ombro que um dia tu buscaste...

quinta-feira, julho 12, 2007

Vou-te contar uma história...

Aquele lugar, naquela cama, no outro quarto, no mesmo quadro, na mesma história, continuaria a suspirar por se encontrar vazio de razões, que o levasse a ocupá-lo de sentidos, esse mesmo espaço, no fundo já de medo, de ali, já prostrado, se encontrar quem nunca mais se quis ver.
Uma tela pintada pela vida, mas rubricada por quem passava por ela, e a olhava com o desprezo de em mais uma fábula se rever, na hipotética vontade de se misturar nas mesmas cores, que julgou expulsarem-no um dia, com a verdade do seu juizo sápido.
Nada de vil, se não mais umas palavras robotizadas pela sede de uma esperança que se vai desvanecendo nas nuvens que se precipitam num abismo constante, de pensamentos infames, mas nem por isso verdadeiros. Os dias acabariam por ser somas congestionadas pelas suas próprias angústias, por dialectos imperceptíveis de quem espera nunca mais voltar ao ponto em que tudo começou um dia.
A revolta inicia, onde termina a sensiblidade de um raciocínio que perante uma submissão atroz, se envolve na obscuridade dos mesmos passos, que um dia o fizeram ser tão diferente do resto de um mundo que o atacava num plágio constante das suas ideias e dos seus sentimentos.
Nada disto se tornaria claro em momento algum, percebendo que não haveria quem lhe escrevesse a mesma história, a sua, talvez aquela que um dia sonhou pintar numa qualquer tela a quatro mãos e sem regras.
Acaba por desaparecer numa noite em que a lua foi cúmplice de um adeus sem demora e sem retorno, há quem diga que foi para longe, outros tantos afirmam que ficou mais perto...

segunda-feira, julho 09, 2007

É...

É um salto...
É um ponto final, é uma viagem que se inicia, é uma viragem de página, é um momento que se vive, é algo que de nós parte, é tudo o resto que fica, e tudo mais que se inventa.
É um até já, sem sequer ter sido um adeus, é uma lágrima que corre para mais tarde se sorrir, é um aperto de mão quando o que queríamos era um abraço, é uma história que se escreve, é uma vivência que se ganha, é uma criação dos nossos olhos, é um deslumbramento de um sentido, é uma corrida contra o tempo, é um sonho que se vive...
É tudo mais que nos assola, quando apenas existe o resto...
É assim...

quarta-feira, julho 04, 2007

ocaso taciturno

Temo pelo que escrevo, pelas formas distorcidas que tornam as palavras que vou cravando no vazio, num óbice simplista, de uma interpretação fácil e desajustada do meu próprio mundo.
Não me leio nas frases que escrevo, nem no que represento nas mesmas.
A vida é assim mesmo, perde-se tudo, para mais tarde se perder tudo mais que ainda havia por perder. Não que isso me obrigue a uma reflexão profunda, mas obriga-me a uma sinceridade própria de quem não quer ser lido. Não agora.
Agora apenas vivo cansado das minhas próprias certezas e das suas reais consequências.

terça-feira, julho 03, 2007

A tua música...

Não sabemos quantos passos damos, quando tudo o queremos é estar parados, ouvir o som de quem caminha ao nosso lado e nos dá a mão, talvez quando nada mais queremos ouvir, se não aquele arrepio que nos transporta para uma eterna penumbra que tarda em desvanecer-se aos nossos olhos.
Foste uma rosa.
Foste uma pauta de músicas diferentes, mas tão audíveis, como a doçura do teu olhar.
Foste uma tela, com poucas cores é certo, mas inventaste mais umas quantas que pintaram os dias de quem te olhou de um tom só, mas tão teu.
Retratos de um momento vivido por mim, mas certamente velado por ti em silêncio.

Perceber-te...

Esta sede que não acaba nunca, as palavras que não se esgotam, e as vivências que nos arrastam para memórias que ardem no calor de um tempo que nos consome.
Uma porta trancada, talvez uma fechadura desarranjada, não sei... talvez algo que nos afasta e insiste em não nos deixar sós.
Compreendo-te, mais que tudo, sinto-te e penso-te como fruto de uma imaginação que não se deixou alhear de um presente e que te torna tão viva quanto real.
Talvez sem perceber o que me desperta e alimenta, numa alma desfigurada pela força de um silêncio corrompido por palavras sem autor... mas com história - a tua história.
Deixa-me pintar as tuas palavras, escolhes tu a cor...

segunda-feira, julho 02, 2007

Vox

Voas, sim, só tu sabes voar...sem que te dês conta que o fazes da forma mais sublime, mas também a mais sentida de todas... Dançavas por entre a claridade de uma voz que sussurrando apenas te desenhava na sombra de um perfeito punhado de flores estarrecidas com as formas de um olhar que não sendo meu, era único, era mágico, e esse sim, ficou...
Sem música, mas com um imenso mar de emoções assisti ao pleno de um por do sol de razões, que partilhámos sempre com mais alguém, mas que nunca conseguimos viver sós.
Sabemos recordar talvez melhor que ninguém, mas facilmente nos arrastamos numa ténue corrente de uma tristeza que nos invade... Mesmo assim vamos vivendo da melhor forma que sabemos, sorrindo pouco é certo, mas talvez com a esperança de mais tarde poder sorrir sempre...
Facilmente nos perdemos, eu do teu olhar e tu da tua sombra...

Interlúdio...

... uma rosa deitada no peito de um mar imenso, de formas tão pouco geométricas, quanto humana era a sede da calma maresia. Guardam-se os mesmos movimentos que nos apaixonaram um dia pelo mar, pela brisa, pelo som das ondas de uma revolta sem nome, mas com medo.
Olhámos e apenas olhámos, nada mais.
A mesma rosa que tinha tombado um dia no areal dos sentidos, foi a mesma que adormeceu no teu peito, até ao dia em que a onda da tua paixão a resgatou de um deserto imenso e a levou para junto de ti ...

Ler...

Revisitei em sonhos a mesma praia que um dia me fez sonhar contigo.
Passa-se o tempo escrevendo, e pouco se vive vivendo, quando apenas existiu o pó de uma serena saudade que não nos deixa viver mais do que aquilo que procuramos saber viver, mesmo assim, pouco.
Pensando que faço das palavras, as minhas, e que escrevo neste meu desassossego, talvez o que que um dia me fez tornar tão só quanto as horas que ainda passam, as mesmas que ainda hesitam ser lidas, mas não hoje.
Moro bem longe, no desejo de não mais voltar senão agora, senão no momento de não saber para onde irei.
Sei que não te vou ler mais, apenas o sei, porque o sinto.
O teu silêncio pautou-se de memórias desalinhadas de um sentido só.
Sei agora que exististe sem que te sentisse um momento sequer.