Pensei em ser diferente, em não olhar mais para o céu azul e pensar que ali sim, seria a finitude de um momento que nada mais tinha para dar e que não deu. Deixar de pensar que tu, ao deixares de o ser, não voltarias nunca a olhar para trás sem mágoa de dor, e que sobrevivias apenas olhando para o que restava ser, num momento só, a pura ilusão sem sentido, de um regresso a um passado taciturno e só por isso composto de uma transcrição de memórias falhadas.
Nunca deixaste que te dessem a mão, de pensar que existias apenas como tu és, nada mais. Nunca deixaste de pensar no que é sofrer porque sabias o que te prendia, o que te agarrava a um outro mundo, não este.
Deixei de espreitar por detrás da tua porta com a mesma vergonha que um dia me fez olhar-te só.
Nunca acreditei em caprichos do acaso, quando sabia que tudo mais era apenas uma paisagem por ti criada, de quem no fundo sempre se escondeu do que sentia.
Vives submissa de um passado, de uma outra alma que nada mais tem para te dar, mas nem por isso se fecharam os braços, mesmo quando sempre fechaste os olhos e pensaste que não podias estar ali, não agora, não hoje.
Fazes um luto que só tu vives e só tu queres entender. Sem atalhos, pois o pleno do teu sofrer vive-se de formas facéis e tão pouco contundentes, que de tão arbitrárias serem, te deixam sem forças, te apagam, te consomem.
Vive o teu sonho, mesmo que tenhas a certeza que vais sofrer mais uma vez, nem que seja apenas por mais um momento, mas vive-o.