segunda-feira, maio 29, 2006

Até já...

Não é importante ser-se importante para alguém, quando para o ser, não se julgaria mais, senão uma luta desigual entre o que se vale e o que se quer valer, entre muitos, em que só ganha quem nunca perdeu a verdadeira vontade de se tornar mais e não menos, melhor entre tantos e não somente entre alguns. Já não custa virar as páginas do tempo, as mesmas que outrora rasgavam as vidas itenerantes, sem mácula, mas com fé, na mudança e na vida de quem nunca deixou de o ser, e só por isso, nunca será de quem se quis usar dela. Pensamos em tudo, e no nada que depois de ter sido mais, nada é, senão o menos de tudo o que nos aproximou demais e nos afastou tão cedo de histórias que julgámos escritas tarde demais para que pudessemos sequer pensar nelas. Assim foi, mais um pouco de nós que se perdeu num imenso vazio, preenchido com aquele pouco de nada, e tanto de saudade que nunca nos quis deixar sós. Gostava de tornar meus, os teus sonhos, descrever-te o que vejo da forma como sinto o que para ti nada mais foi que igual e tão somente diferente das palavras que de tão vulgares serem se tornaram no Aquiles, e não na Vénus, que auguras no teu olhar. É bom quando me escreves, quando te ouço, e fazes do teu silêncio uma forma de me agarrares um pouco mais ao que julguei nunca ter perdido. Não esqueço as feições, não esqueço o olhar, e todo o prazer que fizeste questão de esculpir naquelas mesmas noites que de tão frias serem nos tornaram únicos. Viagens que traçámos, destinos que se cruzam na saudade, e tudo isso que nos faz estar tão perto. Até já...

segunda-feira, maio 22, 2006

Assim...

Falo-te do sorriso, dos lábios, dos mesmos que te fazem seres tu, sem que abuses ao sê-lo, sem que o deixes de ser um minuto sequer quando suprimes palavras e usas toda a tua energia num pouco de ti, que sem saberes, o usas tão bem.
És transparente, da nitidez desses olhos nasce a maior das verdades quando a tristeza te serena o sorriso, e em forma de um pouco de ti, deixas que um pouco de mim, leve tanto de alguém, que nunca julguei escrever nua senão nestas palavras que escrevo sem censura mas com pudor. Não que seja capaz de desenhar o teu corpo em linhas ténues de uma visão nunca atroz, sempre épica de quem suprime a inspiração de uma musa, de quem volta a não saber como escrever alguém que nunca deixou de brilhar nesta noite de estrelas fugidias, mas nem por isso de uma claridade sentida, por quem te olha e quem não te sente.
És especial, não por te ver como te vejo mas por tu veres como tudo vês, não és bela aos olhos de alguém, os teus olhos é que fazem tudo tão belo, que de tão bela seres, te confundes no que tu nunca julgaste mais belo, mas que sim, assim o és... bela.

domingo, maio 21, 2006

Só...

Tão só, o mais possível só, e nem por isso com uma vontade de me tornar mais só, nem menos só, do que já me tornei. É bom estar sozinho quando tudo o resto que vemos não é mais do que uma ilusão, que em forma de noite, por lá se passeia, não menos do que uma fracção dessa mesma noite, que vestida de um manto negro, nada de novo traz senão a escuridão. São longas histórias, estas, de estórias mal escritas mas nem por isso bem dormidas.
Sentindo que ser ignorado não é menos que ser visto e olhado, e não sentido, e pouco mais que reconhecido e esquecido, é tudo uma forma de ver quem se quer ver, como espectador, tão espectante que não dói, apenas mói.
Mais que cansaço, é um óbice em forma de uma ignorância tão aparente que de tão transparente ser se confunde com a mórbida inocência de quem um dia se quis passar por melhor, por diferente. Quando tudo o que nos oprime, nos ilude, e que tudo deve ser diferente num espaço de tempo tão curto, que de tão pequeno ser, acabará por não se ver, sequer existir.
Porque não voltar as costas a um passado recente de formas tão geométricas, o mais possível esquecidas, tardiamente lembradas, que apenas ganham formas em pequenos pedaços de sonho que julgo lembrar em noites volvidas, mais uma vez bem dormidas e só por isso, menos bem escritas.
Melhor do que estar perto, quando mau é estar longe, é estar longe de quem nunca nos quis ter assim tão perto...

Tu(...)

Surpreendes, vestes o teu melhor sorriso na certeza que levarás a melhor numa conversa sem tema, num tempo sem fim, mas contado ao segundo. És tu quem mais brilha, quem desfaz as palavras turvas e as torna doces momentos, que facilmente se escondem em respostas sem tempo, sem espaço. Teoremas dificeis em forma de poemas fantásticos desenhados num movimento perpétuo que só tu sabes construir em torno dos teus gestos, transpirando a sensualidade de uma inocência tão pouco contada, mas tão admirada, pois ninguém te vê como eu te vejo.
Espero que ninguém roube esse teu sorriso, que não sendo tudo, é um pouco mais que um nada, que os teus lábios não sendo por si só um todo, apenas são uma pequena parte de ti - a que deslumbra.
Nem as palavras te deixam em paz, quando paz é tudo, menos aquilo que esperas ter de quem te escreve, de quem te lê, mas que não te sussura, pois cada ponto, cada vírgula, cada aroma das palavras que te pintam enquanto mulher, é apenas mais uma tela que tu acabarás por assinar.

quarta-feira, maio 17, 2006

Não partas...

Não partas, não me obrigues a escrever com estas mesmas palavras uma qualquer sonata que se despede de ti, como a chuva de um inverno triste. Não apagues o que de melhor deixo, senão numa qualquer saudade sentida por quem te viu, e quem te vê. Deixa-me ficar mais um pouco, olhar para ti mais um pouco, tentar tocar-te um pouco mais, com os mesmos olhos que um dia fizeste brilhar, sem o saber.
É por ti que partes, é contigo que trazes aquela mesma alegria que vi nascer um dia, em alguém tão próximo, mas ao mesmo tempo tão longe.
Deixa-te estar mais uns minutos com a certeza que farei brilhar mais os teus olhos, não por lágrimas de um adeus, mas por sentidos sem sentido algum. Se queres ser livre, liberta-te do desejo que é sê-lo, para que aí sim, possas partir sem olhar para trás e deixares um pouco de ti, assim como eu deixo um pouco de mim, em ti..
Não consigo virar as páginas desta história sem pensar que o adeus possa ser o fim daquilo que ainda escrevo sem olhar as horas que me atormentam. Tento desenhar com palavras, o mesmo que um dia sonhei poder conquistar com o coração. Não consigo deixar de iludir o tempo e essa tua razão. Os mesmos que um dia te levarão para longe, os mesmos que te fazem pensar em partir... é triste poder estar triste com o início que nunca o foi, para passar a ser um fim...

terça-feira, maio 16, 2006

Paixão...

Foi nessa noite, em que nos tornámos iguais que desenhámos a nossa história, em gestos tão suspeitos como a noite que nos acalentava o momento que fez de nós os donos de um mundo tão nosso. Deixámos de existir ali, para passar a viver bem longe de tudo o resto que nos fazia estar perto. Os teus olhos que adormeciam ao doce toque de versos sem sentido algum, denunciavam a ternura dos teus suspiros que assinavam cada gesto e nos faziam tão próximos de um sonho tão imaturo, mas tão terno. Foram momentos de analepses construídas em pormenores descritos pelos teus lábios cuja doçura recuso um dia sequer vir a esquecer. Passaria tempos sem que me falasses das forças que perdias, e outras que ganhavas, em alturas que era bom demais passar os nossos segundos e vivê-los como os nossos eternos minutos. Tudo isto em segredo, em noites passadas sem rumo, comandados pela distracção do tempo que nunca nos julgou senão quando tudo terminava, deixando somente a saudade, e a vontade de não mais partir.

segunda-feira, maio 15, 2006

Narrativa...


ACTO I

«Foi impossível olhar para ti como uma outra qualquer, como alguém que se despiu de dizeres de preconceito e acabou na singela vulgaridade de quem por uma só vez se tornou única. Já nem a tua voz, melodiosa de tempos lembrados na minha memória me acalmam a negra vontade de estar distante de quem outrora, em falsas imagens, me quis tão bem.
Afogo por isso as saudades sentidas, numa vulgar folha de papel, que de tão branca ser, nos deixa suspensos num firmamento de histórias e nos obriga a estar tão somente sós, mas tão bem. Olhamos e nada temos a dizer, apenas queremos esquecer o impossível.
Quando uma hora te esqueces e dizes que te despi no teu sonho com as mesmas palavras que errei em escrever, apenas fazes disso uma razão para a futilidade de um ser que nem pensava existir e que se escondeu quando por ele perguntei um dia.
És um ser igual a tantos outros, não te julgo por isso diferente, nada mais que uma ilusão que um dia fez de ti a maior das desilusões para quem te olhou e te quis, não mais do que nada.
Não sei se este frio me fez perder um pouco de mim, em ti...»

ACTOII

«Vi em ti a maior das alegrias em forma de pessoa, dei um pouco de mim, a ti, que me escreveste a mais bela das mulheres em forma de poesia. Traíste a vontade que fez de uma única palavra um grande preconceito não em número, mas em género. Separaste o bom, do mau, e não consegui dar-te mais do que um parco sorriso escondido por detrás de quem sofreu quando teve o sublime, o óptimo. Vivias num engano de quem um dia me fez amar sem loucura. A culpa, essa, é de quem me julgou como tu o fazes, não deixo por isso de vender um pouco da minha alma a quem a queira usar. Não procuro palavras, prefiro descansar na eterna solidão que foi sonhar contigo um dia. »

sábado, maio 06, 2006

Zero ( 5.17 am)

Sinto que já não pertenço a lugar algum, estou um pouco à deriva entre o vasto oceano de ideias e a solidez da racionalidade que o desperta. Não serão por isso infinitas as tão pouco polidas lembranças de um passado, que julgo tão vivido de nada, e que sempre assim terá sido, não mais do que um preenchimento vazio de soluções, para aquela que seria a maior das equações e o resultado, esse, o mais humilde de todos os algarismos: o zero. É então um número que por si só não tem valor algum, mas que, quando colocado à direita de um algarismo significativo, aumenta dez vezes o seu valor. E seria então isso mesmo, tal como os números, as pessoas, e a vida, e essa... não passaria a ser mais do que um qualquer ponto numa escala, de que se parte para uma contagem de valores positivos ou negativos, aqueles mesmos que nos fazem sentir tão bem, ou tão mal, nos dias que passamos ocupados a viver... seremos um zero quando sós, eis a dúvida.