segunda-feira, junho 30, 2008

breve...

... escrevo o momento em que julguei ver-te dançar... por breves segundos deslizaste no meu tempo, apenas não olhei.
O preto fica-te bem justo ao corpo, enaltece-te a alma e as palavras que despes em sussurro quando a música nos abraça no silêncio da rua ...

quinta-feira, junho 26, 2008

do meu silêncio ...

... o silêncio serenou o fulgor de duas meias palavras que nunca deixei que se tornassem suficientemente audíveis ...
... retiro-me em silêncio ...

quarta-feira, junho 25, 2008

vida de taberna ...

Faz todo o sentido tentar perceber essas palavras...
Palavras fumadas de cotovelos postos numa mesa redonda de impensáveis razões que de forma empolgada se estilhaçam entre vozes graves, distorcidas pelo som de uma música intragável e de uma aguardente caseira ruim.
Enfim...
Fechada a porta, a taberna enche-se com o ego de histórias de feitos e defeitos, de peito malandro inchado, acalorados pela invencibilidade das suas conquistas, ao mesmo tempo que os seus punhos desbravam caminho entre copos vazios e lamurias constantes.
O álcool dá lugar à tristeza e a noite termina com a embriaguez de quem se arrasta pelas ruas calcetadas em direcção a uma casa que aprendeu a odiá-los.

terça-feira, junho 24, 2008

o cansaço ...

... hoje o dia acaba mais cedo, talvez a forma mais desconfiada de olhar para o lado e querer apenas adormecer.
Derrubado pelos dias de um ar sufocante que aos poucos se vão abeirando sobre mim ou pelo trabalho dos outros que cresce em forma de problemas irresolutos.
De uma forma lacónica, este meu cansaço que hoje me vai consumindo a vida lentamente ...

segunda-feira, junho 23, 2008

Sonho de uma noite de S.João...

Interessa hoje recordar que diante de uma paisagem recortada por séculos de um dionisíaco prazer, se transforma uma conversa insuspeita numa noite improvável.
Uma tal noite inteira.
Um novo nascer do sol e o cansado regresso a casa.
O sono que apenas tardou e que não chegou.
Os dias seguintes: frenéticos ...
A magia dessa noite que guardo hoje em segredo.

sexta-feira, junho 20, 2008

saber...

... faz todo o sentido pensar nas ondas que me abraçam na manhã seguinte a uma noite mal sonhada. Uma esperança de encontrar nesse mar descontraído, uma doce memória de um punhado de dias maus que fui semeando aos poucos na minha vida.
Interessa, hoje, não lembrar ...

quinta-feira, junho 19, 2008

ouve ...

... depois de te ouvir, hoje, resta-me dizer-te, que este é um mundo que não nos descobre nem nos condena, que nos habituou à omissão, ao invés de uma razão que nos julgue de verdade.
Gostava de te poder contar outra história, dizer-te que afinal tu foste o mundo de alguém e serás a maior das virtudes no meio de tantos erros cometidos por outros.
Na verdade, tantas vezes, nada mais somos do que o resultado de uma sinalética irresponsável dos cinco sentidos que nos acossam os dias dolorosamente vespertinos.
A tua inocência, a tua verdadeira essência, que não desfaleça hoje nos teus olhos embargados pela incerteza de um adeus.

quarta-feira, junho 18, 2008

a minha amizade ...

Quando passares por mim novamente, vou estar mais velho.
Não vais reparar que deixei as cartas e os poemas e passei a escrever em prosa.
Que voltei a escrever à mão e que aprendi a felicidade no meio de um passado que me ensinou a guardar o choro de velhas recordações e memórias sentidas.
Que regressei de um tempo que hoje me abraça no segredo de uma saudade que levei comigo para a vida.

terça-feira, junho 17, 2008

do plágio e do sentir ...

... as palavras insistem em repetir-se de uma forma sensata pelas mesmas pessoas que sempre julgaram opôr-se a algo que as fizesse confundir com um qualquer seu semelhante.
Condena-se o plágio do que se sente.
Uma transfiguração de um mesmo sentimento que se repete vezes sem conta, quando o que se descreve faz todo o sentido repetir-se, sempre por pessoas diferentes, e não de um modo vulgar.
É talvez a única forma de o entender: nunca o viver como um erro, e aceitá-lo como um frugal desvio de um caminho de uma vertigem omissa.

segunda-feira, junho 16, 2008

sentido...

A fragilidade de um corpo nu que se distrai na penumbra de um ar seco e exausto, de uma noite ofegante que se perde na memória de um horizonte que viu desaparecer o sol em si.
A paisagem convidava a um silêncio sem sobressalto enquanto transpirava o prazer de um momento que durou para sempre.

domingo, junho 15, 2008

ópio da razão...

A amizade de um abraço não se desculpa, recorda-se no epílogo de uma saudade presente, na esperança de que um dia esse gesto, não se repetindo, faça ainda mais sentido com alguém.
Um momento descrito como a audaz epopeia da criação de um merecido mundo novo.
... corro, agora, diante de uma minha felicidade ...

sábado, junho 14, 2008

uma história com vida...

... elogio de uma alma doce, de uma sombra fria debruçada sobre o seu mundo.
Parecia um palácio modesto, perdida num bairro imenso em que se cruzam emoções em forma de música desgarrada com o cheiro de um fogo que vai acalentando a prosa que se alonga.
É uma vida com história.
Consegue perder-se em dois ou três momentos quando se fala de uma felicidade que a cansou, que a arrastou para uma praia deserta e para um amor intenso que nunca mais a largou.
Até hoje.
Por esta hora, entre copos vazios e uma noite já alta, libertam-se as lágrimas de um passado tão terno, que a amarram a uma solidão que ainda hoje perdura.
Diz que todos os dias de manhã quando ao longe avista o mar, o mesmo que tudo lhe levou, se perde na melodia das cartas de uma saudade que ainda hoje a faz chorar num pranto, quando passeia na memória de um seu amor de natureza perfeita...
Recompôs-se.
Fecha as portadas de madeira tosca e apaga a única luz que a conheceu essa noite...
Fez-se silêncio.

sexta-feira, junho 13, 2008

Dias...

Acordar de manhã com a sensação de um sol iminente que me faz transbordar num ápice, deste leito sereno em que me deitei pensante.
Da minha cama expulsei a noite com o mesmo fulgor de outros tempos.
De olhos semi-cerrados fui capaz de contar as horas que passaram enquanto viajei sonhando.
Os dias parecem saber a uma primavera que desfalece lentamente nos braços de um verão que tarda em abraçar a pauta de uma dança tão pouco vulgar ...

quarta-feira, junho 11, 2008

ir ...

... quantas vezes pensamos que viajar é um verbo que apenas se conjuga no plural e acabamos um dia qualquer a perceber precisamente o contrário. Entender que não interessa a distância que se percorre, quando tudo o resto se mantém igual num nosso esperado regresso.
É talvez difícil entender-me agora que o tempo parece ter mudado definitivamente e os dias cresceram numa luminosidade exacerbada pela decisão de ir.
Se na verdade tudo me parece diferente hoje, neste meu regresso a casa, julgo saber que a sobriedade de uma razão minha se recorda em apenas um só gesto: o mesmo que me faz simplesmente ir ...

terça-feira, junho 10, 2008

da aparência...

... quantos são os adjectivos que compõem o Homem? tantas vezes temos tendência em reconhecer que diante de nós apenas existe um sujeito bípede, bímano, ás vezes racional e outras vezes sociável, não que uma coisa invalide obrigatoriamente outra, mas cada vez mais parece ser assim. Os nossos livros defendem a inteligência do Homem e a sua complexa forma de comunicação como principais factos que o fazem distinguir-se de outros seres organizados.
Na verdade, hoje, parece que basta um olhar para nos adjectivar, abreviando o facto de não sermos um ser tão complexo assim, o mesmo que se envolve em emoções e se embaraça perante um gesto que comove ...
Enfim ...

quinta-feira, junho 05, 2008

Reconceptualização do verbo ter ...

... navegando por alguns significados do verbo ter consigo eleger uns quantos que me parecem fazer todo o sentido: possuir; poder dispor de; haver; prender; gozar; fruir; conquistar; sentir; experimentar; valer; dar provas de; manter, conservar (em certo estado ou disposição); poder contar com;(...).
... futilidade de um verbo que morre no seio da sua própria essência ...

fala-se de uma história de amor...

... diz-se que, perdidos em si, as suas mãos se degladiavam ao mesmo tempo que se libertavam numa metamorfose sentida em cada toque, em cada gesto enternecido pelo espreitar insuspeito de uma música que gritava lentamente por dois corpos que se ouviam e descansavam em respirares sustenidos de uma saudade imensa de um desejo insane.
O olhar permanecia brando, contrastava com o silêncio de uma força dominada pelo sabor de um tom qualquer, numa tela preenchida por momentos de um fado cantado a dois, de uma razão descontente pela nudez de uma saudade que se tolera e que por instantes finge não existir...
Hoje fala-se que estão acordados pela certeza de que a magia permanece a mesma ...

terça-feira, junho 03, 2008

«Tenho prazer em ser vencido quando quem me vence é a razão»

... revivo hoje as palavras de Pessoa, numa tal reflexão moderada pelo fumo ténue de uma noite bafejada por esta saudade.
Esta constante de ser, que me acompanha nestes minutos de um silêncio que não me perturba que me despe de preconceitos, e se descreve lentamente nesses minutos que não passam por passar mas que se arrastam por uma vida inteira, que desfalecem no final de um dia de um cansaço feliz, mas que atordoa ...
Nunca me perdi nas minhas próprias razões, duvido umas quantas vezes de mim e faço das minhas palavras uma minha razão, única, mesmo tantas vezes não a conhecendo, e outras tantas desprezando o seu plagente sabor ...

segunda-feira, junho 02, 2008

escrevendo...

.... Escolhi estas palavras e desarrrumei uma prateleira repleta de livros perfumada pelo pó de um tempo insensato que se confunde com uma vontade de me desculpar de nada, escrevendo...
Por vezes ou sempre ... talvez cada vez mais, sei cada vez menos acerca de mim... Concluo.
Há dias convenciam-me do contrário e entre uma dúzia de frases insuspeitas estou certo que deixei de estar atento no momento em que advinhei palavras começadas por outras que não cheguei a ouvir sequer.
Quando não nos sentimos bem até os elogios enjoam, maltratam, magoam...
O único defeito é conhecermo-nos demasiado bem para esquecer tudo o que consciente ou involuntariamente fazemos de mal e esse sim, é um exercício sem direito a qualquer tipo de elogio ...