Só temos esta vida, mais nenhuma nos vai permitir sermos nós mesmos, senão esta que agora vivemos, a mesma que tantas vezes fizemos por esconder.
Ontem perdi-me nos meus próprios saberes enquanto aguardava junto ao teu mar de algo tão insuspeito como uma onda mais forte que me despertasse... Dei comigo de pés enterrados na areia - calçado é certo, mas com a sensação que este inverno merecia que me descalçasse e me entregasse, nem que fosse por breves instantes, a uma terra que se arrasta ao sabor de um vento que sopra, ou de uma maresia que o acaricia... tal como nós, um autêntico espelho, e é tudo tão humano, tão físico...
Quando decidimos entregar-nos a essa mesma natureza, tão nossa, a uma paisagem que nos envolve como esta, esquecemo-nos de tudo o resto, e o nosso mundo é infinito, basta olhar para o nosso horizonte. Nessa altura pensamos em tudo, no futuro, nas conquistas, nas nossas possiveis derrotas, e esse momento é um quadro, uma fotografia, a nossa tela. Recusamo-nos a olhar para trás, porque sabemos que tantas vezes falhámos, e o nosso horizonte parece ser bem mais brilhante do que a escuridão que nas nossas costas nos desassossega, nos desmente.
É de noite, passam-se horas e o sono não chega, de frente para o mesmo mar que me convidou a uma conversa amena, nasce o sol nas minhas costas, não resisto e olho... Tudo brilhava.
Quando regresso ao teu encontro, já o negro horizonte está a ser invadido por novas cores que nos despertam os sentidos, e decidimos ficar mais um pouco...
Quantas vezes te aconteceu, transformares o momento que te envolve, num reflexo da tua própria vida?