Perturba-te mais o silêncio dos outros, do que a tua falta de respostas perante os que se calam diante de ti.
Caminhas sem destino junto a uma qualquer praia, julgas saber o rumo que tomas mas não questionas sequer o que te levou a ausentar-te de um calor ameno para um vento frio que te gela em cada passo que insistes em dar.
Transformaste o teu corpo numa arma de arremesso contra quem te fez mal, vendeste uma parte de ti a uma evidência tão pouco evidente que é ter alguém, e não te reconheceste em momento algum dentro da tua própria existência. Podem ter passado meses, talvez anos, sem que tenhas decifrado hoje cada uma das razões que te levou a fugir de uma vontade sentida que aprendeste a dominar com a distância do silêncio.
Fartaste-te de ouvir falar sobre o que era o senso comum das mesmas pessoas que te julgavam, e resolveste tu mesma construir o teu próprio senso, longe de ser comum a uma vida pautada de tão poucos excessos. No entanto guardaste-o em ti, não o mostras a ninguém.
Mãos nos bolsos, tentas aquecer um pouco as ideias que te levam a viajar para bem longe.
Sabes que ali tu podes ser tudo, não há limites, nunca houve, talvez seja isso que te leve a sobreviver sem viveres o que te achas no direito de viver.
Vives hoje apenas de momentos, sabes que os gestos do passado já te pertenceram, que já não te pertencem mais, nem saberás hoje a quem pertencem, ou se te podem pertencer ainda. Tens medo de ouvir, de ler, de sentir tudo aquilo que te fez feliz, nem que por breves instantes, mas sabes que sim, que é algo só teu, por instantes tens direito a ser egoísta no teu próprio mundo, isso ninguém te roubará nunca.
Chove, aceleras o passo, está na hora de regressar.
Deixas o mar e já só pensas que te espera um banho quente, um êxtase sem face, mas um momento teu.