terça-feira, outubro 23, 2007

Viagem...

Perturba-te mais o silêncio dos outros, do que a tua falta de respostas perante os que se calam diante de ti.
Caminhas sem destino junto a uma qualquer praia, julgas saber o rumo que tomas mas não questionas sequer o que te levou a ausentar-te de um calor ameno para um vento frio que te gela em cada passo que insistes em dar.
Transformaste o teu corpo numa arma de arremesso contra quem te fez mal, vendeste uma parte de ti a uma evidência tão pouco evidente que é ter alguém, e não te reconheceste em momento algum dentro da tua própria existência. Podem ter passado meses, talvez anos, sem que tenhas decifrado hoje cada uma das razões que te levou a fugir de uma vontade sentida que aprendeste a dominar com a distância do silêncio.
Fartaste-te de ouvir falar sobre o que era o senso comum das mesmas pessoas que te julgavam, e resolveste tu mesma construir o teu próprio senso, longe de ser comum a uma vida pautada de tão poucos excessos. No entanto guardaste-o em ti, não o mostras a ninguém.
Mãos nos bolsos, tentas aquecer um pouco as ideias que te levam a viajar para bem longe.
Sabes que ali tu podes ser tudo, não há limites, nunca houve, talvez seja isso que te leve a sobreviver sem viveres o que te achas no direito de viver.
Vives hoje apenas de momentos, sabes que os gestos do passado já te pertenceram, que já não te pertencem mais, nem saberás hoje a quem pertencem, ou se te podem pertencer ainda. Tens medo de ouvir, de ler, de sentir tudo aquilo que te fez feliz, nem que por breves instantes, mas sabes que sim, que é algo só teu, por instantes tens direito a ser egoísta no teu próprio mundo, isso ninguém te roubará nunca.
Chove, aceleras o passo, está na hora de regressar.
Deixas o mar e já só pensas que te espera um banho quente, um êxtase sem face, mas um momento teu.

segunda-feira, outubro 22, 2007

pelo menos uma vez...

Já é tarde...
Deitas-te finalmente na madrugada da vontade alheia, numa cama que é a tua...
Esperas pelo dia seguinte, sem resistires sequer ao escuro que te envolve, ao silêncio que te liberta, pois tudo em ti adormece lentamente...
Por ora preferes o silêncio a um sono tranquilo, pensas e despes cada momento do teu dia num ápice, sabes que trazes presente o perfume que te embriagou um dia, não sabes bem quando, apenas sabes que assim foi, não há engano possível, estás certa que não.
Os teus cabelos desalinhados contradizem a tua vida tão terrena.
Sabes de cor o nome das ruas pelas quais passaste de mão dada a uma felicidade que te extasiou, te despiu sem regras, te tornou hoje tão frágil. Deixas escapar um sorriso, porque sabes que ninguém vê quando te lembras daquele beijo, daquele abraço, daquele amasso...
Tudo em ti acorda, e vives durante breves segundos a mesma alegria que um dia te fez sentir tão viva, pena é não durar uma eternidade como tantas vezes prometeste a ti mesma que duraria. Resolves parar e pensar no que és hoje, em tudo aquilo que viveste há tanto tempo, na tua rotina, e não te reconheces em momento algum, pois sabes que existe algo mais, aquela dúvida, alguém que um dia te deixou sem palavras, que tantas vezes te olhou e te leu.
Olhas para os mesmos escritos, esses bem guardados, que outrora fizeram de ti rainha e aí sim, tens vontade de mudar tudo em ti, de voltar a escrever, de continuar a sentir, mas agora com mais força com o mesmo sentimento que te moveu durante todo o tempo que passou...
Acabas por adormecer no desejo de o fazer.
Acordas de manhã sem música, para um dia que apesar de quente, nunca será tão acolhedor como no dia em que te perdeste nos braços de quem vive em ti na forma mais pura de se viver... Talvez um dia pensas tu.
Já todos o vivemos...pelo menos uma vez...

Mordaz

Abriram-se portas que outras janelas fecharam numa corrente de ar forçado, este, a dobrar as mesmas páginas que nos fizeram rir um dia, e chorar pouco, porque até então eramos felizes, como mais ninguém sabia ser.
Sem história, marcados pelo tempo, hoje ouvimos mais do que sabemos ler entre as linhas do passado, talvez irados pela preguiça que é viver longe de tudo o que nos faz pensar.
Somos maduros o suficiente para cair vezes sem conta de um ramo viçoso da vida de alguém, mas somos tão imaturos quanto a nossa juventude nos permite ser, sonhar, viver...
Nada mais nos resta do que procurar e nunca encontrar.
Somos frios porque o tempo assim o exige, desculpamos tantos erros que um dia passamos nós a ser um equívoco, sem que perante isso nos desculpem de sermos como somos: errantes.
As frases repetem-se e os gestos esmorecem já sem significado, acabam as letras por morrer no lume brando de uma saudade sem história.
Nada de novo num mundo igual.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Cem...

São cem as histórias contadas, uma dúzia de mágoas, e outra meia, de uma solidão, essa sim, sem história alguma. Vivências que me ajudaram a estar mais perto, sem realmente estar, viagens sem um fim à vista em que apenas se começou algo, no entanto tão pouco, mas nunca desejando um regresso, talvez porque nunca interessou conquistar, sem que se pudesse viver um pouco de tudo aquilo que se ganha de alguém.
Não sei, talvez te tenha encontrado nas palavras que tantas vezes dilaceraram a alma de quem as leu na busca de uma resposta que acabou por nunca conseguir encontrar, e que não ousou alguma vez pensar que sim, perdida quem sabe, numa qualquer frase despida de advérbios de modo, mas adjectivada por fortes anseios.
Foram cem os momentos de investidas épicas, vividas por quem por nós passa, e por quem de alguma forma vai ficando, e cada vez mais fica. Escrevo-te a tinta permanente na história da minha vida, mesmo que não te queira conhecer, e se te conheço, não te conhecerei assim tão bem, para que possa dizer que sim, mas lês-me, só tu saberás se com prazer o fazes...
Histórias sem sentido de facto, mas com a certeza que ‘de tudo o que é mais transparente escolho as formas e os gestos da tua sombra, que não se apagam, apenas me atraem e me despem no mesmo momento que me olhas e serenas ...’.

A ti, em especial, bem haja por mais um ano de blog.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Vita

Tenho para mim que a vida não são apenas os dias que nos constroem, mas que são pautados pelas interrogações que nos fazem pensar em tudo, tudo o que nos define e não nos surpreende. Questionamos de mais. Claro que sim. Sempre que podemos.
Tanto que às vezes a nossa vida deixa de o ser, para passar a escrever-se de trás para a frente, vivida por momentos disléxicos e incompreensíveis, tamanha é a vontade de nos tornarmos seres esclarecidos e pouco voláteis a um qualquer desejo alheio.
Uma rotina, um diário que deixamos de escrever, em que se deixam de contar os dias para se embarcar num espaço, sem rumo, de emoções destruídas e graves questões que não nos atrevemos a colocar a mais ninguém, se não a nós mesmos.
Vivemos assim, sem respostas, mas com uma vontade sentida de encontrar soluções para mundos sonhados e outros tantos destruídos, com um doce toque de quem nunca se atreveu a partir, não hoje, nem nunca.
Apenas só mais uma dúvida, uma só questão, que nasce em nós e não morrerá tão cedo, certos que estamos de uma fraqueza timbrada nas cartas da nossa vida.

terça-feira, outubro 02, 2007

Complexo...

Conseguimos sempre o impossível, que é baralhar as palavras de uma vida apaziguada pela calma da noite que por nós passa e nos desfalece pouco a pouco nos braços. Nunca dizemos chega, apenas porque a sede nos procura assim como nós procuramos um dia ser felizes, enfim, pensando só em nós, e na nossa própria vontade, na nossa própria ira.
Somos heróis nos livros de quem faz de nós exemplo, sem mágoa, mas com a dor típica de quem sente. Voar por voar leva-nos a sentir que mais vale o pousio de dias quentes e noites primaveris, esses mesmos, em que nos sentimos preenchidos pela brisa que passa, do que aguardarmos por paraisos tempestuosos que apenas nos arrancam da epiderme da alma uma saudade descrita em lágrimas galopantes, essas sim, dolorosamente sentidas. Voltados ao silêncio do sono tudo parece ter mais sentido, apesar das cores nos despertarem para a vida, continuamos a preferir a paz de um repouso vazio de tons, mas preenchido de secretos aromas e sabores improváveis, tão nossos...