Leio com atenção folhas passadas de vidas vividas e pouco estudadas. Lembro sem mágoa alguma, que é bom ser tudo aquilo que os outros não esperam que venhamos a ser. Enquanto seres relacionais, congeminamos constantemente uma situação que nos possa vir a ser favorável e trabalhamos em torno de um qualquer objectivo que até então não haveria razão para existir. Criticamente denominados de demagogos do senso comum, rapidamente se passa de idolatrado, fonte de uma paixão, a um sentimento de revolta por quem usa as palavras em favor de uma causa individual e tão pouco popular, como seria na sua concepção, seu apanágio.
Vive-se assim, entre o medo de ser, e o medo de parecer, constrói-se toda uma vida em torno do hiato entre dois termos para os quais não existe um verbo que os conjugue, de uma forma positiva - a seiva da raiz de todos os valores. Adaptamo-nos, transformamo-nos, inventamos toda uma receita para que nos tornemos os verdadeiros gestores de conveniência em que o último recurso é pautado por uma hipoteca da nossa própria moral, daí provirá toda uma dívida que contraímos toda a nossa vida, sem que nos apercebamos que é isso que realmente estaremos a fazer. Dá-se valor a tudo, que de uma forma ou de outra, pode contribuir para o bem estar de quem procura ser mais.
Julga-se pelo que se diz e pouco pelo que se sente, fala-se demais e escreve-se de menos, enquanto esperamos que as palavras desapareçam da memória, ficam as acções que as motivaram e as consequências que as determinaram.
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