quarta-feira, novembro 12, 2008

descrição...

... do fim de noite, o casaco estendido no meio de uma sala vazia, uma voz que não cessa, e um corpo prostrado numa cama dessarranjada pela pressa do dia que acabou por passar.
O toque sentido, sem sentido no corpo que gela do frio que trespassa o arrepio de uma morena certeza que se despe sem culpa.
O desejo que não finda, os olhos que se procuram num negro silêncio de um despertar que adormece sempre sozinho.
O ímpeto do erro que nasce da saudade e se afoga no ensejo de nada mais existir, do que apenas amar pelos minutos seguintes de um acordar já passado, despertado pela mão desse prazer que resiste, que subsiste...

1 comentário:

little*thing disse...

Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.

E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.

Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por cousa esquecida.

Fernando Pessoa