sábado, setembro 30, 2006

Outono...

Somos escravos das nossas próprias virtudes, quando nós mesmos não as reconhecemos como tais, deixando assim que se faça da nossa vida um vasto império de momentos sem sentido que insistimos em lembrar como eternos e tudo fazemos para não os perder, não agora.
Agarramo-nos ao tempo que insiste em nos deixar presos à memória de uma vida que julgámos abandonar no minuto que nos separou, aquele mesmo, quando finalmente nos abraçámos, e nesse momento virámos a página, aquela mesma, onde tinhamos sido a cumplicidade, a vitória, o desgosto, a memória e a saudade. Nada mais importa.
Chega agora o Outono. Caem as folhas da história de uma vida.
Sem dar oportunidade á memória desenhada pelos afectos, e no meio das páginas que insistem em me acompanhar ao sabor deste vento que já sopra frio e húmido, aconchego-me no abraço que não tenho, ao som de uma música que não toca, mas de um sonho que me permite dar os passos certos num momento que agora construo, sem conhecer quem quero, na distância de um tempo que insiste em nos deixar longe...
Chega agora o Outono. Caem as folhas da história de uma vida...

quarta-feira, setembro 20, 2006

(Ir)real

Escrevi-te ao som do tempo que passa, desenhei-te á medida das minhas mãos, para que te pudesse tocar sem esquecer os contornos da sedução que te deixam ser tão única quanto eu me lembro de te escrever que o poderias ser.
Tudo o que te tornou tão menos racional neste jogo, e já tão ausente nos dias que nos ultrapassam, sem mais nos olhar, acabando sempre por julgar a forma como queres que te olhe sem te ferir e te toque sem mágoa de dor. Tudo isto que vale no mundo que sonhei de uma só vez e só para nós, nesse mesmo tempo em que nada mais conta senão o que tu contas, como verdade.
Os passos que dás nas palavras que escreves, na forma desinteressada que desperta o interesse de quem não te vê e apenas te lê, são sombras de virtudes, desenhadas pelos gestos despreocupados de quem sabe que não existe, senão só em sonhos, arriscando por isso tudo, sem ter nada a perder, senão o fôlego de quem fugiu um dia de um destino tão certo que era tornar-se real.
Vive-se melhor assim, sem a pressa de aparecer, sempre com o medo que a ilusão que nos torna invisiveis, nos proteja da maior das desilusões que um dia um sonho criou...

quarta-feira, setembro 13, 2006

Passeio de Inverno

Acho que na incerteza de uma acção mais impensada, acabamos sempre por hesitar em fazer o que advinhamos ser o mais certo, pensando com isso, que será objectivamente o mais fácil, mas nem por isso pensamos na realidade que é errar, como um caminho que traçamos de olhos vendados.
É sempre a mais incorrecta de todas as correcções que alguma vez julgámos corrigir, num longo e oblíquo movimento de ponderação, de quem nunca julgou a verticalidade de quem hoje nos enfrenta, esgotando assim a visão cruel de um mundo egoísta e só, como aquele passeio de Inverno, pelo parque da tua memória, apagada pelo espaço vazio criado pelo tempestuoso tempo de uma distância que nunca nos deu tréguas e amargamente nos julgou.
Fugidia esta saudade que outrora escondeu uma paixão e um medo que nos traz à lembrança, o k foi suspirar pela dor da ausência de quem nós nada mais sabemos, na mais sublime das histórias de amor.
Consigo ainda lembrar aquele passeio de Inverno tão tempestuoso, como tempestuosas são as memórias que habitam nos minutos que passam da rotina de uma vida.
Assim se constrói a saudade, na dúvida e na incerteza, nubladas por um futuro, que não nos pertencerá mais.